Empresários pedem maior entrosamento Argentina-Brasil para exportar mais alimentos

Avaliação foi realizada em um evento que reuniu executivos do setor de alimentos dos dois paísesEmpresários argentinos e brasileiros esperam maior integração entre os dois países para aproveitar oportunidades no cenário global de grande demanda por alimentos. A avaliação foi feita em um debate em Buenos Aires, promovido pela Embaixada do Brasil na Argentina e pela Câmara Empresarial Brasil-Argentina.

O analista argentino Dante Sica, da consultoria Abeceb, moderador do debate, destacou que a Argentina e o Brasil respondem por 43% da produção mundial de soja e, em 2020, vão superar os 51% e falou sobre o cenário para o produto.

Para Antonio Aracre, da Syngenta, é importante entender que o mundo mudou. Destacou que há 30 anos o plantio de um hectare alimentava somente duas pessoas; nesta década, com o mesmo hectare, são alimentadas quatro pessoas, mas a demanda mundial, especialmente da Ásia, requer que um hectare alimente seis pessoas. Segundo ele, com o uso de tecnologia isso é possível.

O que preocupa, segundo ele, é saber quem vai liderar as normas que regulamentam a agenda para que estas tecnologias sejam aplicadas.

– Se continua sendo manejada por quem a maneja atualmente, basicamente os europeus, os países emergentes que necessitam de mais consumo, proveniente de Ásia, e os que fornecem os alimentos, a América Latina, terão possibilidade muito menor de desenvolver essas tecnologias.

Proteína

O executivo brasileiro da BRF, Nelson Vas Hacklauer, por sua vez, chamou a atenção para a demanda de proteína que deve superar 400 milhões de toneladas em 2050, conforme estudo do Banco Mundial.

– O consumo de proteína animal vai ter um crescimento per capita em todas as regiões e, com mais ênfase na Ásia – China e Indonésia, porque detêm 40% da população mundial e vão experimentar crescimento econômico acima de 5% ao ano.

Ele destacou ainda os diferenciais dos países latinos na comparação com outros:

– Temos que tomar cuidado porque Brasil e Argentina têm vantagens estruturais que os países demandantes não têm, como a disponibilidade de água. E estão localizados onde podem aumentar a produção em 70% com tecnologia; os demais produtores já se encontram no limite.

Van Hacklauer disparou críticas ao Mercosul e defendeu a liberdade de negociações bilaterais.

– O Mercosul está estagnado, não tem evoluído e não tem trazido benefícios para os parceiros e impedem as negociações bilaterais.

Segundo ele, a falta de alinhamento entre o Brasil e a Argentina impediu a negociação de acordo com a Europa.

– Acho que vamos ter barreiras sanitárias provenientes desse não acordo e existe um grande produtor de proteína que é o Japão e a China. Temos que nos alinhar de maneira urgente”, defendeu.

O executivo também apontou para o Brasil, que precisa fazer sua lição de casa.

– O Brasil necessita de infraestrutura logística, de portos. A logística do Brasil se transforma em um caos no momento da safra. O exportador já desconta US$ 20 por tonelada por deficiência logística e demora.

Economia mundial

Gustavo Grobocopatel, do Los Grobo,destacou os caminhos seguidos pelas duas nações:

– Os setores público e privado na Argentina parecem ter agendas paralelas, enquanto no Brasil é comum ver uma dinâmica comum de funcionários que assumem cargos no setor privado e vice-versa.

Segundo o executivo, a capacidade empreendedora da Argentina está sufocada pela falta de recursos. Ele criticou, ainda, o discurso da presidente Cristina Kirchner em defesa da distribuição de renda, penalizando, segundo ele, o setor privado.

– É preciso ter equilíbrio entre a distribuição e os empreendimentos.

Ele exaltou, ainda, que as dificuldades da globalização só podem ser combatidas com mais integração, com maior fluxo de comércio e intercâmbio entre todos os países nos diversos segmentos.

– O problema é que tomamos medidas de curto prazo que se transformam em longo prazo, e a proteção prejudica os consumidores.

Gustavo Grobocopatel acrescentou, fazendo referência às barreiras ao comércio implementadas pela Argentina, que as decisões governamentais no atual cenário determinarão se o Mercado Comum do Sul (Mercosul) pode se transformar num ganhador ou perdedor.

– Estamos em frente a uma nova revolução industrial. A anterior teve como centro a Inglaterra; esta pode ter como centro o Mercosul. É uma revolução industrial nova porque as plantas são verdes. A soja e o milho vão ser como as fábricas daquela revolução.

Grobocopatel concluiu sua argumentação lembrando que a Argentina e o Brasil não podem fazer nada no mundo se não resolverem seus problemas internos.

– Será muito difícil vincularmos com o resto dos países sem avançar com uma agenda positiva e pensar numa plataforma única. Brasil e Argentina são irmãos. Sócios podem ser escolhidos, mas irmãos não. Estamos condenados toda vida a fazer as coisas juntos.