Endividamento de cooperativa causa crise econômica em seis cidades do norte do Rio Grande do Sul

Produtores ficaram sem receber pelos grãos depositados e comércio já começa a sofrer com redução de consumo e inadimplênciaO endividamento de uma cooperativa no norte do Rio Grande do Sul pode provocar uma crise financeira sem precedentes para a população de seis municípios. Associados da Cooperativa Agrícola Mista Ourense (Camol), com filiais em São José do Ouro, Barracão, Cacique Doble, Machadinho, Tupanci do Sul e Santo Expedito, deixaram de receber pelos grãos entregues à cooperativa, com reflexos diretos no comércio local. O caso só deve ser resolvido na Justiça.

Dos associados da Camol, 96% são agricultores familiares e dependem exclusivamente dos grãos entregues para sobreviver. Uma comissão foi formada por associados para acompanhar a crise na cooperativa que tem dívidas de R$ 73 milhões, superiores ao seu patrimônio. Quando a diretoria anunciou que não pagaria os produtores, sindicatos e produtores ingressaram na justiça e conseguiram retirar dos silos 51% do que estava depositado, 308 mil sacos de soja e 80 mil sacas de milho. Mas depois de pagar as despesas com advogado, funcionários, transporte e armazenamento do cereal, o valor final rateado entre os produtores, ainda teve perdas de 25%.

Sobraram nos silos 260 mil sacas de soja, mas o produto foi bloqueado pela Justiça devido a ação de uma indústria de Biodiesel que comprou soja, pagou parte do produto e não recebeu o grão. A indústria tem liminar judicial para retirada dos grãos, mas nas duas tentativas de levar o produto, foram impedidos pelos agricultores, que bloqueram a entrada dos silos. Um recurso ingressado no Tribunal de Justiça foi favorável aos produtores.

Outras 300 mil sacas de grãos depositadas em 2011 pelos produtores já foram vendidos sem autorização dos associados, mas o dinheiro não foi repassado aos agricultores. Conforme Matos, mais de R$ 40 milhões deverão deixar de circular nestes seis municípios em virtude da crise da cooperativa. Só no Banco do Brasil de São José do Ouro, 563 produtores que não conseguirão pagar as dívidas tentam renegociar os débitos.

Prejuízo na propriedade e no comércio

O orgulho do agricultor Edilson Tonello, 45 anos, pela aprovação do filho Eduardo no vestibular de agronomia se transformou em decepção, por não poder pagar a faculdade do filho. A soja e o milho colhidos pela família nos 24 hectares de terra estão retidos na cooperativa e o agricultor não sabe sequer como vai manter a propriedade. Do produto entregue, 756 sacos de milho e 1.002 de soja, 418 foram comercializados, para garantir o dinheiro suficiente ao pagamento das dívidas de custeio da safra e investimento. Mas dias após a venda, a cooperativa anunciou que não teria dinheiro para pagar os 4,1 mil associados.

– Vou perder R$ 48 mil, tudo o que teria para passar o ano, e tenho R$ 27 mil de dívidas do custeio. Pra mim serão cinco anos trabalhando duro para tentar se recuperar – lamenta.

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