Uma conta impagável. Assim o secretário-chefe da casa civil de Mato Grosso define o endividamento agrícola no Estado.
? Os números não são oficiais, mas estima-se que chegue a 2,5 bilhões de reais os que estão numa carteira de inadimplência, do volume de uma carteira total de 6 bilhões de reais. Então isso é uma compartimentação, um pedaço do que está acontecendo. Preocupa porque esta dívida hoje tomou proporções que eu considero impagáveis. Na velocidade que cresce a dívida, na mesma velocidade ocorre a depreciação do bem adquirido, então é uma conta que não fecha ? comenta o secretário Éder de Moraes.
A maior parte deste débito é antiga. É referente ao período entre 2004 e 2007, quando os produtores não conseguiram quitar empréstimos para operações como custeio e investimento. A quebra da safra provocada pela estiagem prolongada e a interferência negativa do câmbio financeiro foram alguns dos motivos.
O volume desta dívida preocupa o governo do Estado e as lideranças do setor, que na última semana foram à Brasília pedir ao ministério da Agricultura e ao BNDES a busca imediata de uma solução para o problema. A promessa de que um grupo técnico será montado nos próximos dias para mapear e discutir a situação amenizou, mas não acabou com a apreensão.
? O risco para o BNDES provém dos bancos privados. Os bancos privados não abrem ao BNDES o tamanho da inadimplência que possuem na carteira rural, na carteira de Finame agrícola mais especificamente, e isso cria uma máscara, o risco de uma bolha no sistema financeiro nacional. Nós já tivemos casos recentes que já aconteceram na economia brasileira e que nós não queremos que isso se repita. Então, estamos alertando o sistema financeiro nacional ? explica o secretário-chefe da casa civil de Mato Grosso.
A estimativa é de que 40% dos produtores de Mato Grosso enfrentem dificuldades relacionadas às dívidas com bancos públicos e privados. Entre elas o arresto de máquinas em pleno período de plantio e colheita. Para o setor, a demora em encontrar soluções pode se tornar uma ameaça a produção agrícola no Estado.
? Os produtores não estão tendo condições de renovar o parque de máquinas. As máquinas estão sucateadas, o saldo devedor está muito alto e isso pode impactar inclusive na produção de alimentos. O setor sabe que é preciso investir em tecnologia para conseguir um custo de produção compatível com o que o consumidor consegue pagar. É preciso fazer estes investimentos e não ficar parado, discutindo um problema que já é bastante antigo ? diz o presidente da Famato, Rui Prado.
Para tentar minimizar este problema, um dos credores iniciou esta semana um mutirão para renegociar dívidas dos produtores rurais. A proposta de repactuação do Banco do Brasil engloba pendências superiores a 100 mil reais, vencidas até 30 de junho do ano passado. A negociação contará com encargos reduzidos e deverá ser contratada até o prazo máximo de 29 de abril.
? São 10 anos para pagar, desde que nos cinco primeiros ele pague 40% da dívida. A entrada é de 10%. Os juros são de IRP mais 0,5%, o que equivale ao juros da poupança. As condições são excepcionais ? afirma Anderson Scorsafava, gerente de mercado de agronegócio do Banco do Brasil.
O governo de Mato Grosso deve convocar para os próximos dias uma reunião com diretores de bancos públicos e privados financiadores do setor agrícola, para buscar alternativas conjuntas para solucionar o endividamento rural no Estado.