Sistema que já é aplicado no país desde 1970, quando bem executado, gera ganhos de até 30% na produtividade em comparação ao sistema convencional
O Brasil é hoje um dos países com a maior área de plantio direto do mundo, com 32 milhões de hectares. Entre os principais benefícios do sistema estão a redução no uso de água, maior conservação do solo e aumento de produtividade na lavoura. Os ganhos em produtividade chegam a 30% se comparado ao sistema convencional, e 50% em época de estiagens.
O sistema plantio direto que foi implantando no país em 1970, no estado do Paraná trouxe muitos benefícios ao país nesses quase 50 anos, desde ampliar a produtividade em áreas já existentes até transformar um solo considerado inapto em um oásis verde. Em Mauá da Serra, a 320 quilômetros da capital paranaense, um caso como este aconteceu com o agricultor Sergio Higashibara, um destes precursores do novo sistema, mas não porque queria se diferenciar e sim porque suas terras eram praticamente improdutivas. “Na década de 70, era muito comum encontrarmos amigos de Apucarana ou de Londrina, que tiravam sarro de minhas terras por serem muito ácidas e pobres de nutrientes”, diz Higashibara.
Depois de aplicar as técnicas de plantio direto que pede de 8 a 10 toneladas de palha para que tudo funcione bem e a correção do solo os resultados surpreenderam os amigos de Higashibara. Na mesma área, que antes o produtor não conseguia colher nem 35 sacas de soja por hectare, os números saltaram para mais de 50 sacas, valor parecido com os obtidos nos municípios de Bela Vista e Paraíso do Norte. “No inicio a produção de soja aqui era difícil, e graças ao sistema plantio direto conseguimos algo muito parecido com aquelas regiões”, garante o produtor.
Estudos realizados pela Embrapa Soja comprovam que o sistema plantio direto aumenta a produtividade nas lavouras em 30% quando comparado ao sistema convencional. Em anos de seca, lavouras com o plantio direto produzem até o dobro do sistema convencional. Um dos pilares do sistema plantio direto é a diversificação de culturas, e existem basicamente quatro modalidades que o produtor pode usar para diversificar o seu sistema de produção.
A primeira é a sucessão de culturas, que é a alternância de culturas dentro de um mesmo ano agrícola. Por exemplo, trigo no inverno e soja no verão na região sub tropical, ou então milho segunda safra e soja no verão. Já a segunda modalidade é considerada a mais benéfica para o produtor a rotação de culturas. “Na rotação de culturas o principio básico é alternar espécies diferentes na mesma estação do ano. Um exemplo de sistema de rotação seria a alternância entre soja e milho no verão e de trigo e aveia ou milho segunda safra no período de outono e inverno”, conta o pesquisador da Embrapa Henrique Debiasi.
As outras duas opções são a consorciação, que consiste na maximização de espaço mediante o cultivo simultâneo, num mesmo local, de duas ou mais espécies com diferentes características. “O exemplo mais comum hoje é do milho segunda safra com a braquiária, então a consorciação permite a produção de grão e ao mesmo tempo a produção de palha e raízes para o sistema”, afirma Debiasi.
Por fim sobrou as janelas de cultivo que tem como um bom exemplo característico o período entre a colheita da soja e o plantio do trigo. Com o advento das cultivares precoces de soja, em determinadas regiões ganham até três meses, que seria perfeitamente possível o cultivo de uma cultura de ciclo curto como o milheto e o nabo forrageiro.
Entretanto a Embrapa ressalta que antes de decidir por alguma modalidade de cultivo o produtor precisa entender quais espécies se adaptam a sua região. No Centro-Oeste e Norte do país, que são regiões de clima mais quente, as opções mais indicadas são as Braquiárias, as crotalárias e o milho segunda safra.
Na região Sul as opções são o trigo, a aveia, o nabo forrageiro, a triticale e o centeio.
Muitas das culturas usados no sistema plantio direto são espécies forrageiras que, além de fornecer palha e raízes, podem ser usadas para a produção de carne e leite, agregando valor à produção agrícola da propriedade com o sistema integração lavoura pecuária, que, segundo os especialistas, é uma excelente alternativa no processo de diversificação de culturas. “No caso das lavouras estamos falando basicamente e principalmente de soja e milho, que são as duas culturas mais cultivadas no Brasil hoje em termos de grãos. E em termos de pecuária, nós estamos falando em pastagens tanto perenes, quanto pastagens anuais”, conta o pesquisador da Embrapa Avaldi Balbinot.
No caso de clima mais frio, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sul do Paraná, no inverno, o cultivo de pastagens devem ser formadas com aveia preta e azevém e muitas vezes estas duas espécies consorciadas.
Estudos mostram que este sistema reduz a necessidade de máquinas, mão de obra e o uso de insumos na atividade agrícola. Segundo a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, só a economia com o óleo diesel, combustível mais usado nas máquinas e equipamentos agrícolas, chega a 60%.