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Entenda a ferrugem asiática e a preservação dos fungicidas

Novo vazio sanitário de MT criou debate em torno da necessidade de se preservar os produtos que combatem a ferrugem, uma das principais doenças da cultura da soja

Rikardy Tooge | São Paulo (SP)

A ferrugem asiática é assunto no principal Estado produtor de soja do Brasil. O Mato Grosso alterou sua legislação fitossanitária para tentar preservar os princípios ativos capazes de combater o fungo da ferrugem, praga que pode causar grandes perdas nas lavouras.

Em decisão tomada no mês de outubro pelo Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT), o período de vazio sanitário passou de 90 para 137 dias. A Instrução Normativa 007/2014 foi feita em conjunto com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf).

A partir de 2015, o período sem plantas vivas de soja nas propriedades começa em 1º de maio e vai até 15 de setembro. Para o coordenador da Comissão Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura (Mapa) em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, a decisão foi acertada. Segundo ele, o principal objetivo é evitar o plantio da soja de segunda safra e o excesso de aplicações de fungicidas, o que pode diminuir rapidamente a eficiência desses produtos.

– Foi uma decisão técnica. Existem estudos que comprovam a perda de eficiência dos principais grupos de fungicidas, alguns de 80% de eficiência caíram para 20%. Fizemos uma reunião entre empresas e produtores, e as empresas não queriam vender fungicidas para a safinha. Nosso objetivo é restringir a soja safrinha comercial – explica Guerra.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk, se posicionou contra esse novo período. Para ele, essa mudança afeta muito mais a produção de sementes do que a soja de segunda safra.

–A gente tem que preservar o direito de se produzir sementes. Há sobrepreços e, com isso, você deixa o produtor refém do mercado – afirma Tomczyk.

O fiscal do Mapa reforça que a produção de sementes não foi o alvo da decisão técnica. Wanderlei Dias Guerra defende que o produtor possa plantar sua semente. Ele orienta que o sojicultor separe 4% da lavoura para produzir sementes na época da safra principal. Outra possibilidade apontada é cultivar até 15 de janeiro para conseguir colher a tempo.

– É importante reforçar que não sou contra a produção de sementes. Acho que é um instrumento importantíssimo na regulação do mercado. Eles podem e a lei permite. Mas nós estamos preocupados com a safra principal, com 100% dos produtores. Evitar que permaneça inóculos de ferrugem em soja guaxa da safrinha, que são fungos menos sensíveis e já sobreviveram às aplicações da primeira safra e mais pulverizações da safrinha – ressalta.

Novo calendário

Apesar da decisão do Indea-MT, há chances que tenha uma nova alteração no período de vazio sanitário. A possibilidade é que seja de 1º de junho até 30 de setembro, data que a Aprosoja-MT considera ser um meio-termo entre a necessidade do produtor e a preservação dos fungicidas.

– Tivemos uma reunião com o Indea nessa semana. Está avançado para conseguirmos um entendimento. Dá para adiantar que será possível o produtor produzir sua própria semente – comenta o presidente da Aprosoja-MT.

O fungo

A ferrugem asiática da soja é uma doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi (Sydow & P. Sydow), que precisa do hospedeiro vivo para obter seu alimento. A ferrugem asiática se constitui em um dos principais problemas fitossanitários da cultura.

Fungicidas

Segundo a Embrapa Soja, os fungicidas utilizados no controle da ferrugem pertencem a três grupos: DMI (inibidores de desmetilação); Qol (inibidores da Quinona Oxidase) e o SDHI (Succinato Desidrogenase). Quando a ferrugem asiática foi identificada no Brasil, a praga foi controlada com a aplicação de fungicidas do grupo DMI, tanto isoladamente quanto misturados. Produtos desse grupo tinham alta eficiência.

A partir da safra 2007/2008, os resultados de ensaios cooperativos, realizados pelo grupo de pesquisadores do Consórcio Antiferrugem mostraram uma redução de eficiência em alguns produtos DMI.

Os fungicidas Qol nunca foram recomendados para serem usados isolados, porque os estudos mostravam que eles não tinham a mesma eficiência do DMI. Em 2013/2014, foram registrados os primeiros fungicidas do grupo do SDHI para cultura da soja em mistura com QoI, que apresenta eficiência maior.

– Agora toda a cadeia produtiva precisa realizar um esforço para prolongar a vida útil desse terceiro grupo – alerta a pesquisadora da Embrapa Soja Claudia Godoy.

Inóculos na soja guaxa da segunda safra

O coordenador da Comissão de Defesa Vegetal do Mapa em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, entende que a soja de segunda safra comercial é um forte ponto de infecção. Segundo ele, os fungos sobreviventes da safra principal e da safrinha se hospedam nas plantas guaxas do último ciclo, restando somente o fungo mais resistente, que sobreviveu a mais de 10 pulverizações de fungicidas. E é essa resistência que pode antecipar o fim da efetividade dos fungicidas.

– Muitos produtores se aventuraram na safrinha. O que notamos é que as guaxas da safrinha, as guaxas-neta, podemos assim dizer, têm um fungo super-resistente. Os produtos disponíveis estão mais caros e podem perder a eficiência mais cedo. Não vale a pena correr o risco – salienta.

Amostra de guaxa-neta tomada pela ferrugem, coletada em Campo Novos do Parecis (MT) pouco antes do final do vazio sanitário. Esporos sobreviventes podem ser mais resistentes que os anteriores e ser um grande problema nesta safra (Wanderlei Dias Guerra/Arquivo Pessoal)
Amostra de guaxa-neta tomada pela ferrugem, coletada em Campo Novos do Parecis (MT) pouco antes do final do vazio sanitário. Esporos sobreviventes podem ser mais resistentes que os anteriores e ser um grande problema nesta safra (Wanderlei Dias Guerra/Arquivo Pessoal)

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