A atenção dos produtores de soja do Brasil está concentrada nos mapas meteorológicos. Isso porque, desde o dia 10 de setembro, com o fim do vazio sanitário, alguns estados já poderiam iniciar a semeadura da oleaginosa. Mas, com a falta de chuvas e reduzida umidade no solo, só os agricultores mais ousados arriscam colocar a sementes na terra seca. Para o pesquisador da Embrapa, José Salvador, especialista no assunto, esta estratégia além de errada pode trazer um prejuízo de pelo menos 50% na produtividade, sem falar na possibilidade do replantio.
Os mapas meteorológicos até prevêem a chegada de algumas chuvas no Paraná, no próximo final de semana. Algo em torno de 30 milímetros acumulados e concentrado em poucas regiões. Este volume, segundo Salvador é insuficiente para garantir a condição ideal para a germinação das sementes, ainda mais se considerarmos a quantidade de água armazenada no solo.
Segundo o pesquisador a capacidade de armazenamento de água do solo depende de vários fatores relacionados à gênese do próprio solo (teor de argila, mineralogia, etc.) e às estratégias de manejo adotadas no talhão (sistema plantio direto, aporte de matéria orgânica, controle da compactação, etc.). Assim como, o balanço hídrico do sistema de produção é fortemente influenciado pelas condições climáticas.
“Neste sentido, considerando que estamos passando por período prolongado de estiagem, desde meados de agosto, associado a temperaturas relativamente elevadas, na grande maioria dos solos a reserva hídrica encontra-se bastante reduzida”, explica.
Além do volume de água no solo estar baixo e as previsões de chuvas serem inferiores ao ideal, a meteorologia ainda aponta que as precipitações regulares devem demorar um pouco mais, no começo de outubro.
“Sem água no solo e a previsão de um período de 10 a 15 dias sem chuvas, quem colocar a semente no solo estará brincando de roleta russa. Pois a semente não terá condição de germinar adequadamente e poderá até morrer”, afirma o pesquisador.
A recomendação é que o agricultor deve aguardar até que ocorra uma quantidade de chuvas suficiente para repor o volume de água do solo e, a partir desta segurança, iniciar a instalação das lavouras. Para efeito de raciocínio, imagina-se a reserva hídrica do solo como se fosse um tanque de combustível de um automóvel, ou seja, se estiver completa (tanque cheio) proporcionará autonomia por um longo período e, a partir de pequenas reposições com chuvas sequenciais este volume será recomposto a níveis satisfatórios.
“Por outro lado, se o reservatório de água do solo estiver quase vazio e, caso ocorra uma chuva de reduzido volume, o suprimento hídrico para a lavoura será sustentado por poucos dias, e rapidamente ocorrerão perdas ou colapso das plantas”, conta.
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Elucidando as necessidades fisiológicas da soja, Salvador Foloni ressalta a importância da água no processo de germinação e estabelecimento da lavoura. Quando a semente vai para o solo, o primeiro estágio da germinação é chamado de embebição, ou seja, a semente absorve passivamente a água disponível no seu entorno para dar início à formação da plântula. “No caso do plantio no pó, se não houver chuva nos primeiros dias após a operação de semeadura, a semente não terá embebição adequada, e provavelmente haverá má formação ou morte da plântula”, ressalta. “Além disso, em períodos de estiagem no decorrer do verão há expressiva elevação da temperatura do solo, mesmo em áreas mantidas com palhada no sistema plantio direto, e este fator causa forte estresse nas sementes e plântulas.”
Se mesmo com o solo seco, a semente conseguir gerar uma planta, ela terá alta probabilidade de permanecer subdesenvolvida durante todo o ciclo, o que os agricultores comumente chamam de “planta dominada”. Existe uma junção de fatores que levam ao fracasso, ou seja, quando se faz a semeadura com reserva hídrica do solo inadequada, utilizando sementes de baixo vigor, escolhendo cultivares de ciclo relativamente curto (precoces) para essas situações adversas, e sem ajustar as populações de plantas.
O estresse por falta de água causa prejuízos em todos os estádios da soja, contudo, há três períodos críticos da lavoura em que o problema é demasiadamente severo: germinação, florescimento e enchimento de grãos. É preciso considerar que quanto maior for a área foliar da cultura, maior será a perda de água por evapotranspiração. Ou seja, na fase entre o florescimento e final do enchimento de grãos, a soja chega a perder mais de 7 milímetros de água por dia. “Se a planta enfrentar uma estiagem neste estágio, o impacto na produção será muito grande e os prejuízos podem chegar facilmente nos 50%, Ou seja uma lavoura com potencial de produzir 70 sacas por hectare, para a produzir 30 a 40 sacas apenas”, explica ele.
Por isso a orientação é manter a programação agronômica voltada a minimizar problemas relativos ao déficit hídrico, tais como, seguir as orientações do zoneamento de risco climático, intensificar o manejo do solo para aumentar a cobertura com palhada e a capacidade de armazenamento de água no perfil, avançar com as estratégias para aprofundar o enraizamento das lavouras, buscar cultivares mais tolerantes à seca, entre outros. “No momento, a posição é aguardar a chegada das chuvas regulares, para que haja reposição da água no solo, para então iniciar os trabalhos de semeadura. Não há outra saída”, ressalta Salvador Foloni.