Diante da alta dos combustíveis, o etanol poderia ser uma alternativa mais econômica neste momento. Mas na maioria dos casos não é. O biocombustível também vem sofrendo reajustes compatíveis com a gasolina e ao diesel. Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a explicação está na inexorável lei da oferta e da procura.
“O preço do etanol é formado pela relação da oferta e demanda. Se há uma corrida muito forte das distribuidoras porque o mercado está aquecido, a tendência é que o preço suba ao nível do produtor. Se há uma menor procura por conta das distribuidoras, a tendência é que exatamente aconteça o contrário”, pontua o diretor técnico da Unica, Antônio de Pádua Rodrigues.
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Para a próxima safra, a expectativa é de uma safra maior em relação a anterior, mas um aumento de oferta não garante uma redução nos preços.
“Tudo indica que haverá um incremento na safra de cana. Mesmo com as condições que nós tivemos em relação à safra passada, por conta de clima, geada e de fogo. Haverá sim o incremento da safra, não voltaremos aos índices da safra 2020/21, onde nós chegamos a processar 605 milhões de toneladas de cana. Nessa última nós caímos para 525 milhões, e esse incremento de aumento da oferta de cana, vai levar a algum incremento da oferta de etanol”, destaca Rodrigues.
No entanto, para o dirigente da entidade, o aumento da safra de cana-de-açúcar necessariamente não garante uma redução nos preços do etanol.
“O mercado vai depender da precificação da gasolina, do câmbio, ele vai e do ciclo otto. Essa combinação é que vai definir o preço da próxima safra. De qualquer forma, este ano nós colocamos 17 bilhões de litros de etanol hidratado no mercado. Como haverá um aumento dessa oferta de 18 bilhões ou 19 bilhões, o produtor vai ter que encontrar o mercado para esse etanol que o consumidor aceite com um determinado nível de preço”.
Os preços elevados ao produtor têm proporcionado ao produtor uma boa remuneração na atividade, apesar do aumento dos custos de produção.
“O preço da cana ao agricultor ficou na faixa de R$ 180 por tonelada, muito acima dos custos de produção. Isso não só pela exportação de açúcar, mas também por conta dos preços do etanol. Nesta próxima safra, nós vamos manter também bons preços. Não tenho dúvida que nós vamos começar com o preço da cana bem alto”, prevê Rodrigues.
Etanol como opção
O que precisaria ser feito para que o etanol ganhasse mais espaço dos tanques de combustíveis dos brasileiros, para não ficarmos tão reféns do preço internacional do petróleo? O programa Renovabio foi um marco importante para garantir remuneração em favor da descarbonização. A iniciativa prevê a produção de 50 bilhões de litros de etanol até 2030, tendo que elevar ainda mais a oferta.
“O setor não tem preocupações com a volatilidade do preço da gasolina. Nós sabemos conviver com isso, tanto na alta como na baixa. Mas nós temos que ter uma previsibilidade de uma forma global. Nas questões de política de Estado, onde o setor volte a investir, porque nós precisamos de investimentos tanto na expansão das unidades existentes quanto na construção de novas unidades produtoras”, ressalta o dirigente da Unica.