Especial - Filhos de agricultores escolheram deixar o campo

Sem qualidade de vida, não há motivação para permanecer no campo. As palavras do técnico agrícola Mircon Fruhauf, da Epagri em Pinhalzinho, parecem justificar a opinião do casal Alceu Moter, de 63 anos, e Isolda Moter, de 61. Os dois trabalham com afinco na lavoura de fumo da propriedade rural de 19 hectares, na Linha Boa Vista. Resignados, não esperam nem sequer desejam que os filhos tenham a vida que levam.

Alceu e Isolda tiveram quatro filhos. Itamar morreu do coração três meses antes de se formar. Ivandro, de 33 anos, é técnico da Epagri. Fernandes, com 30, é mecânico em Concórdia e Nádia, aos 23, estuda. Com 39 anos de casamento, os dois estão acostumados a trabalhar juntos e sozinhos. Não querem mudar de vida e, muito menos, ouvir falar em morar na cidade, onde já estiveram e de onde não guardam saudade.

? Fico tonta, nervosa, é muito barulho em Pinhalzinho. Apesar de sofrida, a vida do campo é melhor ? diz Isolda, e Alceu concorda com a cabeça.

Separando as folhas de fumo, os dois fazem movimentos precisos enquanto explicam por que os filhos não se interessam pelo campo. O casal conta que não teve escolha diante dos próprios pais. Naquela época, contam, era quase uma obrigação seguir o exemplo. E foi o que fizeram.

? Hoje a cultura é deixar livre para escolher. Então deixamos eles caminharem com as próprias pernas. Quando vi, estava “solita” ? lembra Isolda.

Alceu é mais cético quanto à escolha dos filhos. Para ele, falta qualidade de vida no campo. A renda diminuiu, a terra na região é complicada de lidar. “Dobrada”, como diz, para explicar que é em declive. Os Moter também acabaram arrendando parte do terreno para trabalhar em apenas 3,5 hectares.

? O campo não dá mais dinheiro, por isso os jovens vão embora ? diz Alceu.

A comunidade, que tinha 74 agricultores em 1995, tem apenas 28 hoje.

Série de reportagens O Campo Envelhece, do Diário Catarinense, conquista Prêmio Esso de Jornalismo