? De fato, a agricultura já é responsável por 30% das emissões de gases vinculados ao aquecimento do planeta ? disse.
De Schutter apresentou à imprensa as conclusões de um estudo pedido pela ONU sobre a relação entre o comércio internacional e o direito à alimentação, segundo o qual o comércio não pode substituir a capacidade de cada país de alimentar sua população.
Além disso, confirma que a crise de alimentos registrada este ano, originada por um grande aumento do preço dos alimentos básicos, aumentou em 100 milhões o número de pessoas que passam fome no mundo.
O número total aumenta agora para 963 milhões de pessoas ? em comparação às 852 milhões de 2005 ? e, delas, 50% são pequenos agricultores de países em desenvolvimento.
O especialista das Nações Unidas critica em seu relatório o rumo que tomaram nos últimos anos as negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre uma maior liberalização do comércio mundial ? incluído o agrícola ? e afirma que, embora estas conversas tenham tido êxito, isto não impediria que “outra crise de alimentos se repita daqui a dois ou três anos”.
Na opinião dele esta é uma ameaça real, pois as causas de fundo não foram resolvidas, como o fato de que o modelo atual de comércio beneficia os grandes produtores agrícolas (principalmente agroexportadores) em detrimento dos pequenos.
Para De Schutter a suposta prosperidade que o comércio levou à economia mundial teve “custos escondidos”, como o fato de que muitos países sejam altamente vulneráveis às quedas dos preços internacionais ou tenham visto seus produtores locais se arruinarem.
Além disso, declarou que o modelo que impera enriqueceu os intermediários no comércio agrícola, empobreceu os produtores e aumentou os preços para o consumidor final.
Os grandes produtores aumentaram seu poder e capacidade de influir nas políticas públicas, enquanto ninguém representa os interesses dos pequenos agricultores, acrescentou.
Nessas circunstâncias, segundo De Schutter, os que “menos se preocupam por questões sociais ou ambientais têm vantagem”.
O especialista disse que esta situação é conseqüência da ausência total de uma reflexão em termos de direitos humanos, especialmente na alimentação, nas negociações comerciais.