A lagarta helicoverpa provocou estragos em plantações do país e já causou mais de R$ 2 bilhões em prejuízos nesta safra. A praga causou grandes perdas nas plantações de algodão da Bahia, e também prejudicou culturas como a soja e o milho em outros nove Estados.
O inseto é um animal exótico, não é natural da fauna brasileira e é conhecido como praga de quarentenária. Um seminário sobre ameaça fitossanitária reuniu pesquisadores do tema em São Paulo. Especialistas já identificaram aproximadamente 150 novas pragas que podem prejudicar a produção nacional de alimentos.
A perspectiva é de que até 2020, pelo menos 12 espécies se desenvolvam no Brasil. São insetos, plantas, fungos e outros tipos de ameaças da América do Sul que podem cruzar a fronteira. É o que explica Evaldo Ferreira Vilela, pesquisador da UFV.
– As regiões de fronteira e o Centro-Oeste brasileiro são entradas para as pragas devido à vizinhança com países sul-americanos. Mato Grasso e Goiás são as regiões mais prováveis. Curiosamente, a maior parte das nossas pragas introduzidas têm entrado pelo norte do país – conta Vilela.
A praga que mais preocupa os pesquisadores é a monília do cacaueiro. A doença que ataca plantações no Peru, Equador e Colômbia, vem avançando em direção ao Brasil. Já existe a previsão de que ela possa atingir plantações de cacau num prazo de até dois anos.
– A Bahia possui grande área de plantação de cacau. Uma das nossas preocupações é uma ameaça fitossanitária que diz respeito à monilíase do cacaueiro, praga que está na região andina, e também na região amazônica sob controle. É uma grande ameaça para a agricultura da Bahia, porque nós temos uma região de 500 mil hectares, é um maciço de cacau na região baixo sul do nosso Estado – destaca Sueli Xavier de Brito Silva, fiscal estadual agropecuária da Bahia.
O pesquisador da Embrapa Rafael Moreira Soares diz que o controle destas pragas costuma ser difícil, principalmente pela falta de conhecimento para a prevenção e o combate.
– O agricultor tem que estar informado. Essa é a principal ferramenta para não deixar as coisas acontecerem. O ideal é que se trabalhe primeiro preventivamente para evitar que uma praga entre no país e se torne um problema econômico – ressalta Soares.
O diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, destaca que se a praga é nova, é preciso um novo tipo de defensivo agrícola, mas a burocracia para a liberação dos produtos atrasa o combate no país.
– A praga, no caso do sudoeste baiano, em duas semanas já causa prejuízo ao produtor. O conjunto do marco regulatório federal leva meses, até anos para aprovar uma nova molécula. Seguramente, a lagarta vai ganhar da burocracia – diz Daher.
– Precisamos rever a legislação, de forma que de fato se possa fazer com que as emergências sejam tratadas como emergências. Lembrando que a agricultura brasileira é sem dúvida questão de segurança nacional. Uma praga com essa intensidade precisa ser combatida com ferramentas de segurança nacional, assim como o exército tem em alguns casos – desabafa Luís Eduardo Rangel, Coordenador de Agrotóxicos do Ministério da Agricultura.