A consultora Judith Ganes-Chase, fundadora e presidente da J. Ganes Consulting, afirmou nesta terça, dia 28, que não existe excedente global de café. Segundo ela, se fossem aceitos os números oficiais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o estoque global seria maior do que os maiores volumes já armazenados na história do Brasil (mais de 40 milhões de sacas), “o que é impossível conceber; senão veríamos esse café por aí (estocado)”. Judith foi uma das representantes do setor que palestrou durante o 5º Fórum do Cecafé, realizado nesta terça em São Paulo.
Judith argumentou que os números de oferta de demanda global por café “não batem” porque o que pode estar ocorrendo é “um consumo muito maior do que mostram as estatísticas”. Ela citou a Indonésia, onde o consumo da bebida está em rápida expansão, crescendo 10% ao ano.
– Os jovens da Indonésia tomam café ao longo da noite nas ruas, como num piquenique, jogando cartas, sem cafeterias sofisticadas, num processo de socialização – explicou.
Ela acrescentou que o consumo de café solúvel, produzido principalmente a partir de grãos robusta, tende a se expandir.
– O consumo de solúvel deve avançar solidamente nos próximos três e cinco anos, com melhor desempenho nos mercados asiáticos.
A consultora afirmou, ainda, que a participação do robusta no mercado nunca foi tão grande como atualmente: cerca de 39%. Os outros 61% são representados pelo grão arábica. Judith disse que a participação do robusta cresce com o aumento do consumo de café solúvel. E o solúvel cresce pela vantagem de preço mais baixo, concluiu.
O consultor do mercado de café Carlos Brando, da P&A Marketing Internacional, também aponta o crescimento do consumo do produto solúvel nos próximos anos. Segundo ele, o preço do café solúvel é atraente e, além disso, há inovações neste segmento, como a oferta de produto orgânico, sustentável, capaz de contemplar todas as faixas de renda.
Outra tendência é de aumento do consumo de monodoses ou sachês, assim como o que ele chamou de consumo “três em um”, modalidade na qual o consumidor opta por um café misturado ao leite e já adoçado, ou chocolate. Segundo ele, esse segmento cresce pela conveniência e rapidez na operação. Brando disse que esse tipo de consumo cresce no mundo 20% ao ano desde 2004.
O consultor também citou como tendência a abertura de novas lojas de venda de produtos de café. Ele deu como exemplo a marca Coffee Day, na Índia, que atualmente tem 1.400 lojas em 200 cidades no país, atendendo 400 mil consumidores por dia. Também mencionou a tendência das marcas próprias de café, uma opção mais barata e que tem encontrado boa aceitação na Europa, apesar da crise no bloco. Ele citou Tesco, na Inglaterra, Carrefour, na França, e a marca Aldi, na Alemanha.
De acordo com o especialista, a demanda por café caminha para a Europa Oriental e para a Ásia, em particular China, Coreia do Sul e Índia. Por conta disso, ele também sustenta que o consumo de café robusta também deve crescer, principalmente na forma de solúvel, a opção natural nesses novos mercados, em substituição ao chá.
Preços
O diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC), Robério Oliveira Silva, disse que as cotações mundiais da commodity estão em queda, apesar dos fundamentos que dariam sustentação aos preços.
– Alguns fundamentos não estão sendo absorvidos pelo mercado.
Entre os fundamentos que estariam sido desprezados pelo mercado estão a queda de safra na América Central e os estoques mais baixos do produto nos países consumidores. A safra da América Central deve ter quebra de 2,7 milhões de sacas, provocada pela ferrugem. Em relação aos estoques, o diretor da OIC disse que são “historicamente os mais baixos”.
Robério Silva lembrou que as indústrias precisam dos cafés finos da América Central para a formação de seus blends. Isso se reflete nos diferenciais de preço, que estão se ampliando, já sinalizando uma menor oferta dessas variedades.
A oferta brasileira da commodity influencia o preço mundial. O crescimento da produção faz com que os valores pagos caiam no país. O produtor deve ter paciência, porque o valor só deve aumentar no mercado internacional dentro de dois anos.
O governo federal estabeleceu o preço mínimo de R$ 307,00 para a saca do arábica. Os produtores estão vendendo o café a um valor abaixo deste patamar. O setor espera apoio governamental para garantir a renda do produtor.
Medidas do governo
De acordo com o diretor de café do Ministério da Agricultura, Edilson Alcântara, as medidas de apoio à cafeicultura que o Conselho Monetário Nacional (CMN) ainda precisa analisar serão divulgadas junto com o Plano Safra 2013/2014, que a presidente Dilma Rousseff anunciará no próximo da 4 de junho.
Entre as medidas está prevista a liberação de R$ 3,180 bilhões do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para custeio, colheita, estocagem e financiamento para aquisição de café pelas indústrias.
Alcântara disse que, após a análise do CMN, o governo e o setor produtivo vão se reunir dentro do conselho deliberativo de política cafeeira (CDPC) para definir qual tipo de ação será tomada para ajudar numa política de renda ao setor. Questionado sobre se entre essas medidas está previsto leilão de contratos de opção de venda ao governo ou de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro), Alcântara disse que é prematuro qualquer definição.
– É preciso ver a disponibilidade de recursos – afirmou. A reunião da CDPC ainda não tem dada marcada, mas, conforme Alcântara, acontecerá logo após a manifestação do CMN.