O cenário foi destacado por Christoph Berg, diretor geral da F.O. Licht, consultoria alemã do mercado de commodities em São Paulo, durante a sessão plenária que abordou o tema da segurança energética na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, que reúne delegações de 92 países para a discussão dos desafios e oportunidades dos biocombustíveis.
? Do ponto de vista da oferta, as tecnologias de primeira geração deverão garantir um crescimento relativamente constante no mercado do etanol até 2018. A partir daí, os produtores mundiais precisarão de tecnologias da geração seguinte. Caso contrário, teremos o limite da oferta em relação à competição entre o uso da terra para a geração de energia e a produção de alimentos ? alertou.
Berg, que é membro do Grupo Consultivo sobre Biocombustíveis da Comissão Européia, apontou que o etanol, nesse período de tempo, tem capacidade de atingir uma participação no mercado global de combustíveis de até 10%, considerando a estrutura tecnológica atual.
? Uma participação de mercado maior do que essa só seria alcançada com o domínio das tecnologias do etanol de segunda geração, que poderão prover os necessários metros cúbicos extras do biocombustível por hectare ? afirmou.
O etanol de segunda geração, uma alternativa para o uso energético da biomassa, pode ser obtido a partir da tecnologia de lignocelulose, que utiliza o bagaço e a palha da cana com vantagens ambientais e econômicas.
Calcula-se que esses compostos orgânicos, hoje praticamente sem valor comercial, correspondem a cerca de 50% da biomassa terrestre. A produção de etanol da lignocelulose extraída desses materiais é feita com tecnologias ainda em fase de aperfeiçoamento. A transformação pode ser feita com uso de ácidos (hidrólise ácida) ou de enzimas (hidrólise enzimática).
Pesquisas brasileiras são destaque
O diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Richard Jones, divulgou dados do relatório anual da entidade sobre o estado atual da economia de energia mundial e as possibilidades para o futuro. Segundo ele, a tendência atual de uso dos combustíveis fósseis é “insustentável” tanto do ponto de vista ambiental como do econômico e social.
? A má notícia do relatório é que a utilização mundial de gás, carvão e petróleo continuará aumentando, assim como as emissões de gases de efeito estufa provenientes desses combustíveis. O resultado poderá levar a um aumento na temperatura global de cerca de 6ºC nas próximas décadas ? disse o diplomata norte-americano, que foi embaixador dos Estados Unidos em Israel, Kuait, Cazaquistão e Líbano.
Esse crescimento do uso e das emissões pode ser evitado, na opinião de Jones, por meio de um esforço conjunto mundial que busque uma economia baseada na diversificação das fontes de energia, melhorando não apenas a eficiência das já existentes como também criando tecnologias novas, especialmente no setor dos biocombustíveis, devido à sua representatividade crescente nos transportes.
? Estima-se que a utilização dos biocombustíveis no setor de transportes cresçerá dos atuais 1,5% para cerca de 8% em 2030. A previsão para 2050 é de 26% de participação. Sabemos que o potencial de crescimento dos biocombustíveis é ainda maior e as pesquisas brasileiras com o etanol de cana-de-açúcar têm mostrado isso ? destacou.
O petróleo responde por cerca de 99% do consumo de energia para transporte rodoviário no mundo e, segundo projeções da Agência Internacional de Energia, a demanda energética nesse setor poderá crescer até 38% nos próximos 20 anos.
O especialista em bioenergia do Imperial College London, Richard Murphy, falou sobre um importante caminho a ser trilhado se o destino final é ter um futuro seguro do ponto de vista energético em nível global.
? Primeiro, os países precisam ter certeza de que os biocombustíveis produzidos irão de fato mitigar as emissões dos gases de efeito estufa, de modo a estancar as alterações climáticas. Há várias formas corretas de garantir isso, como o investimento em pesquisa e desenvolvimento e a criação de políticas públicas que permitam a drástica diminuição de gases estufa em comparação aos combustíveis fósseis ? alertou.
Murphy ressalta que o Reino Unido não tem capacidade instalada para cultivar toda a biomassa necessária para garantir o desenvolvimento limpo da frota de veículos do país.
? Vamos depender muito do restante do mundo para a compra de biocombustíveis. Gostaríamos de ser parceiros de outros países no desenvolvimento de alternativas energéticas ? disse ele, que também integra o grupo de trabalho do Plano de Pesquisa sobre Bioenergia do Reino Unido.