O profissional, que já trabalhou na Anvisa e coordena um centro de atendimento a pacientes que sofrem contaminações por alimentos, afirma que em 30 anos de experiência, nunca recebeu um paciente contaminado por agrotóxicos. Acrescenta ainda que, apesar de existir a presença da substância nas amostras, menos de 2% ficaram acima do índice tolerado.
– Se a gente analisar cientificamente os dados que o programa da Anvisa apresenta, 98,3% das amostras, de 2,48 mil, indicam valores abaixo de um parâmetro aceito em nível mundial. Isso indica que a população está segura em termos de alimentação com esses produtos – aponta.
Segundo a responsável pelo Centro de Qualidade em Horticultura da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Anita de Souza Dias Gutierrez, a entidade realiza estudo semelhante ao da Anvisa anualmente. Ela diz que o resultado, em 450 amostras monitoradas, é semelhante, mas com outro posicionamento.
– Eu não sei se a Anvisa acredita que o terrorismo alimentar vai resolver alguma coisa. Na prática, o que ela faz? Ela pune todos os produtores. Quando publica isso desta maneira, sem apontar discussão ou a verdadeira causa, ela está destruindo 20 mil produtores. E não vai atrás de quem é responsável, não pune o responsável. Muito diferente do que faz com produtos industrializados – afirma.
Para o presidente da Câmara Federal de Hortaliças, José Robson Coringa Bezerra, o grave da pesquisa não é o índice de contaminação, considerado baixo por ele.
– O registro de produtos que devem ser utilizados tem que ser feito, porque os produtores usam produtos registrados em outras culturas. E estas culturas, principalmente do pimentão, não têm registro. É por isso que causa este resultado elevado – argumenta.
O presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, também critica a postura e a maneira como a Anvisa divulgou a pesquisa. Para ele, o lado negativo foi ressaltado pelo órgão.
– Talvez devesse ficar melhor com zero para pimentão, zero para cenoura e um para tomate. A média de contaminação de fato de produtores estaria de fato em 1,7. Limite este inferior aos níveis internacionais. O que significa dizer que não se está consumindo aqui por receio da forma como foram divulgado os números. Está criando inclusive um problema para aquele pequeno produtor. Este indivíduo que está desassistido, na realizade, está dentro dos padrões que poderiam ser aceitos internacionalmente – afirma.
Em uma distribuidora de pimentões localizada na Ceagesp, o comércio ainda não foi afetado, mas o setor demonstra apreensão. Segundo o vendedor Marcelo Alves de Souza, a confiança foi abalada após a divulgação da pesquisa.
– A turma está comentando, daqui e dali. Os compradores, consumidores. Porém, não houve problemas ainda – relata.