Em curto prazo, disse Morandi, os produtores terão bons resultados com o aperfeiçoamento de práticas já adotadas com o modelo tradicional. O monitoramento integrado de pragas e doenças, o aperfeiçoamento da tecnologia de aplicação de defensivos, a capacitação de técnicos e produtores e a restrição de produtos altamente tóxicos, sugeriu, podem contribuir para a redução do consumo de agrotóxicos.
Marcelo Morandi recomendou ainda a integração e substituição de insumos agrícolas e práticas convencionais por práticas mais sustentáveis. Como exemplo ele sugeriu plantio direto de culturas, fixação biológica de nitrogênio e a integração de lavoura, floresta e pecuária. Numa etapa posterior, acrescentou, poderá ser adotado sistema produtivo que funcione em processos ecológicos. Zoneamento adequado para cultivo de cultura certa no lugar e época corretos, com valorização dos ecossistemas, bem como atualização da grade de formação dos profissionais agrários com visão ecológica, são medidas a serem adotadas em longo prazo, sugeriu.
O pesquisador da Embrapa defendeu ainda a recuperação do sistema da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para oferecer assistência técnica a produtores, tarefa que a Embrapa não teria capacidade de realizar.
Políticas
Na avaliação do representante da Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida, Vicente Eduardo Soares e Almeida, que também é pesquisador da Embrapa Hortaliças, o Brasil possui tecnologia para, em 10 anos, produzir frutas, verduras e legumes de forma ecológica. Em sua avaliação, são necessárias políticas públicas com estratégias para fazer a transição agroecológica, que contemple preocupação com a saúde e com o meio ambiente.
Para o representante da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Luiz Carlos Meireles, o controle do uso de agrotóxicos depende de melhor coordenação das ações entre os órgãos do governo e de melhor regulação da área, bem como a admissão de mais profissionais e pesquisadores por meio de concurso público. Ele informou que são 80 técnicos com formação em toxicologia para responder a todas as demandas relacionadas a agrotóxicos no país.
Luiz Meireles recomendou ainda a substituição de agrotóxicos mais perigosos por outros mais seguros e o monitoramento da qualidade dos produtos, serviços e resíduos tóxicos em alimentos, água potável e solo.
? Em sã consciência, ninguém quer consumir moléculas que causam câncer ou má formação em fetos. O estado quer minimizar os problemas e avançar para moléculas menos tóxicas ? garantiu o representante da Anvisa.
Consumo
O aumento do consumo de agrotóxicos no Brasil é explicado pelo aumento da produção agrícola, disse o diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher. Ele afirmou que a produção do país vai aumentar nos próximos anos e, com isso, crescerá também o consumo de agrotóxicos. Para ele, o clima tropical do Brasil favorece a produção agrícola, mas, ao mesmo tempo, favorece a proliferação de pragas.
Em sua avaliação, não é necessário aumentar a área plantada do país. Daher informou que são 65,38 milhões de hectares destinados à agricultura que, se bem aproveitados, poderão aumentar a produção agrícola. Segundo ele, a integração lavoura/pecuária pode aumentar em 50% a área plantada, sem a necessidade de destruir florestas.