O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Vicente Eduardo de Almeida, fez críticas duras ao modelo de agronegócio baseado em latifúndios, defendendo, em seu lugar, uma agricultura de futuro voltada para os interesses da população. Além da concentração de terras, frisou, o Brasil produz excesso de gás carbônico na agropecuária e é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
O pesquisador defendeu maior intervenção estatal em defesa da soberania alimentar, salientando que poucas empresas ditam a política agrícola no país – situação que, segundo ele, foi alvo de reclamação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A reserva legal determinada pelo Código Florestal foi vista como necessidade absoluta, pois a interação com o ambiente natural mantém 50% da soja hoje plantada.
Já o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Kepler Euclides Filho analisou as tendências para o futuro, declarando que as mudanças na agricultura devem levar em conta o aumento da urbanização e a mudança do perfil das famílias – fatores que, em seu ponto de vista, devem conduzir a demandas diferentes de alimentos.
Ele considerou uma “briga de cachorro grande” a produção de alimentos mais saudáveis e frisou que, à medida que aumenta a informação da sociedade, aumentam também suas demandas em todos os aspectos. Kepler defendeu um papel forte da extensão pública e da formação de redes de produtores que melhore as tomadas de decisão e estimule a capacitação.
O também pesquisador da Embrapa, Zander Navarro, comentou os desafios da agricultura e fez vários questionamentos sobre o estado do mundo em cenários de futuro. Ele lembrou o agravamento da redução da disponibilidade de água e o aumento da renda per capita prevista para as próximas décadas, que terá forte impacto na demanda e nos preços dos produtos.
O pesquisador citou fatores históricos que levaram à propriedade fundiária concentrada, mas citou estatísticas que mostram que a modernização da agricultura -especialmente a verificada desde os anos 1970 – não correspondeu ao aumento da concentração de terras, exceto em casos regionais isolados.