Estiagem faz associações de municípios do Vale do Sinos (RS) pedirem fim da produção de arroz na região

Representantes se encontram nesta segunda, dia 12, para discutir com arrozeiros na Assembleia Legislativa do EstadoArrozeiros e integrantes de associações de municípios do Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, se encontram nesta segunda, dia 12, na Assembleia Legislativa do Estado. Representantes dos municípios querem acabar com a produção de arroz na região devido aos problemas no abastecimento de água.

A previsão de que as guerras do futuro seriam travadas pelo controle da água, feita em 1995 pelo vice-presidente do Banco Mundial Ismail Serageldin, já é uma realidade no Vale do Sinos. Convivendo com rios transformados em filetes e torneiras secas por conta do racionamento, prefeituras da região voltaram sua artilharia contra os arrozeiros e estão propondo a extinção total da lavoura na bacia hidrográfica.

O plano de acabar com a lavoura de arroz foi alinhavado por integrantes da Associação dos Municípios da região (AMVRS) e do Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos). A proposta encaminhada a autoridades estaduais prevê acabar com o plantio de arroz até 2015. A produção seria extinta ao ritmo de 25% ao ano. Em resposta, o setor arrozeiro se mobiliza para mostrar que, se falta água no Vale do Sinos, é por culpa das administrações, que não investiram em barragens.

O presidente do Pró-Sinos e prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, justifica o projeto de extermínio do setor arrozeiro com o argumento de que ele responde por 60% da água retirada da bacia do Sinos, dado contestado pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), um órgão do Estado.

– Na região, há 47 outorgas para retirada de água por arrozeiros. É um setor pequeno, sem muito significado econômico, mas que gera um custo enorme à população. Não podemos continuar discutindo o problema da estiagem e do racionamento todos os anos. Temos de resolver a questão da retirada da água – defende Vanazzi.

Versões conflitantes

A Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) está se municiando de argumentos e dados para fazer frente à declaração de guerra dos prefeitos. Pediu a realização de outra audiência pública no Legislativo, mas dentro da comissão de Agricultura. A desta segunda ocorre na comissão de Meio Ambiente. O presidente da entidade, Renato Rocha, culpa as prefeituras pela má-administração da água. Ele observa que o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica (Comitesinos) apontou 44 pontos onde seria possível realizar obras para armazenar água nos períodos de abundância.

– A população se multiplicou, mas nenhuma obra foi feita. É um problema recorrente, mas só lembram dele na época de estiagem, e aí querem achar um culpado – afirma o presidente da Federarroz.

Segundo Rocha, a produção anual de arroz no Sinos é de 28,8 mil toneladas, o que seria suficiente para abastecer 500 mil pessoas durante um ano. Para ele, a extinção da lavoura desempregaria duas mil famílias.

A proposta dos prefeitos é criticada pelo Irga. O presidente da entidade, Claudio Pereira, diz que o fórum estabelecido para esse tipo de discussão é o Comitesinos. Conforme Pereira, ao enviar a proposta ao governo, os prefeitos optaram pelo caminho “político”.

– Eles não têm nenhum embasamento técnico. O Sinos não sofre problema de falta de água, mas de distribuição da água ao longo do ano. Há poucos meses, estava com enchente. A solução não é acabar com a lavoura. É preciso investir em barragens e na fiscalização da retirada ilegal de água – disse Pereira.