Até agora, a cultura mais afetada é a de milho, com 37,5% de redução na produção na comparação com a estimativa inicial. Os danos causados pela falta de chuva chegaram também às lavouras de soja, com uma queda estimada em 15%. Os reflexos da seca na agricultura gaúcha foram quantificados pelos técnicos da Emater no período de 5 a 9 de janeiro, nas lavouras de milho, feijão, soja e arroz.
– Essas perdas podem ser ainda maiores, já que em algumas regiões ainda não choveu até hoje – disse o presidente interino da Emater, Gervásio Paulus, acrescentando que no levantamento não foram contabilizadas os danos na produção animal, como na bacia leiteira.
Mesmo com a chuva prevista para os próximos dias, as perdas na safra das culturas de verão são consideradas irreversíveis.
— Se chover, poderemos amenizar o impacto dos prejuízos. Mas o que foi perdido não há mais como recuperar — disse o secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan.
O secretário de Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, ressalta a questão do milho e aponta que serão necessárias ações para reverter o quadro.
– Vai faltar milho. No mínimo, dois milhões de toneladas vão faltar no Rio Grande do Sul e nós não podemos prescindir dessa quantidade. Teremos que trazer e isso terá um impacto no custo de produção e na transferência de ICMS para outros Estados. Nós queremos saber como trabalhar melhor este tema em conjunto com as indústrias de ração, de frango, suínos, leite e com o próprio setor do milho no Estado – diz.
A preocupação atinge também os setores de aves e suínos, que têm no milho o principal ingrediente da ração dos animais. Para o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul, Valdecir Folador, a solução é buscar alternativas.
– O milho hoje representa 70% da composição da ração dos suínos. Há outros substitutos, como trigo, arroz, farelo de trigo. Temos muitos produtores que estão utilizando o próprio trigo na formulação das rações, com um percentual de 20% a 30%. Então, isso acaba ajudando a diminuir um pouco o custo e também tendo à disposição a matéria-prima para as rações, porque outra dificuldade é o acesso ao milho, em função desta grande quebra de safra – aponta.
Paulus lembra os dados do levantamento anterior, que já reforçavam os prejuízos em relação a diversas culturas.
– O que primeiro nos chamou a atenção foram as perdas constatadas na cultura do arroz, que, embora sejam pequenas ainda, são muito significativas pela importância e pela área cultivada, que é superior a um milhão de hectares. Segundo, também é o aumento considerável na área de soja – afirma.
Pavan salienta que o governo do Estado busca auxílio do governo federal para amenizar os prejuízos.
– Já disponibilizamos para os agricultores 70 mil sacas de sementes de milho para o plantio da safrinha. Obviamente, desde que chova, senão não tem porque plantar de novo. Estamos em tratativas com o governo federal para buscar milho no Paraná e em Mato Grosso, que colheu uma boa safra de milho, para ser subsidiado o frete e levado para o Rio Grande do Sul a preços compatíveis. O preço de mercado hoje está muito elevado para os consumidores daqui, porque perderam a lavoura. O ministério estuda a situação e seguramente teremos aqui nos próximos dias uma resposta disso, do governo federal garantindo o abastecimento deste insumo, o milho, para alimentação animal. Para fazer a transição deste período, até que a seca se encerre e até que os agricultores possam plantar e colher a safrinha e aí chegar à próxima safra – explica.
Estimativas de produção em cada cultura:
Milho
Estimativa atual: 3,3 milhões de toneladas
Redução de 37,5%
Prejuízo de R$ 863 milhões
Regiões mais afetadas: Ijuí (-68,93%), Passo Fundo (-56,11%) e Lajeado (-35,32%)
Soja
Estimativa atual: 8,75 milhões de toneladas
Redução de 14,99%
Prejuízo de R$ 1,1 bilhão
Regiões mais afetadas: Santa Maria (-22,18%), Ijuí (-19,25%) e Santa Rosa (-17,50%)
Arroz
Estimativa atual: 7,6 milhões de toneladas
Redução de 6,26%
Prejuízo de R$ 253,8 milhões
Região mais afetada: Bagé (-14,34%)