A estimativa divulgada incorpora um crescimento de área disponível para colheita, mas uma queda significativa na produtividade agrícola do canavial, fruto do longo período de estiagem observado no final de 2013 e início de 2014.
Segundo o diretor técnico da Unica Antonio de Padua Rodrigues, a seca intensa observada ocorreu exatamente no período de maior desenvolvimento da cana. De acordo com a entidade, o atual ciclo deve ser novamente mais alcooleiro, com 56,44% da oferta de cana direcionada à produção de etanol. Na safra anterior, esse porcentual foi de 54,78%. Com isso, a produção do biocombustível deve atingir 25,87 bilhões de litros, aumento de 1,20% em comparação com os 25,57 bilhões de litros de 2013/2014. Desse total, 14,63 bilhões de litros serão de hidratado e 11,25 bilhões de litros, de anidro. Já a produção de açúcar deve ficar em 32,5 milhões de toneladas, 5,23% menor que as 34,29 milhões de toneladas observadas em 2013/2014.
Para Rodrigues, a retração no nível de renovação dos canaviais no início de 2014 reflete a difícil situação financeira vivenciada pelo setor produtivo, com muitas unidades sem condições de investir na lavoura.
– Apesar de ampliar a área de colheita nesta safra, esse movimento deve elevar a idade média do canavial no próximo ano, com impacto negativo sobre o volume de matéria-prima disponível para moagem em 2015/2016 – acrescentou o executivo.
ATR
A Unica prevê que a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), que mede o nível de sacarose nas plantas, alcance uma média de 135 kg por tonelada de cana processada na temporada, número 1,2% superior à média de 133,33 kg/t de 2013/2014. Quanto ao rendimento agrícola, a entidade estima que o volume de cana colhida por hectare deve passar de 79,8 toneladas para 73,4 toneladas em 2014/15 (-8%).
Área plantada
Apesar de estimar uma queda no volume a ser processada, a Unica informou que a área plantada em 2014/15 é cerca de 5% maior que a de 2013/14.
– Esse crescimento decorre da maior renovação do canavial e do significativo volume de cana não processada em 2013/14 (cana bisada), que deve representar cerca de 3% da área a ser colhida em 2014/15 – disse.
Segundo a Unica, pelo menos 10 usinas podem confirmar a paralisação das atividades na safra por conta das dificuldades pelas quais passa o setor. Além dessas 10 unidades, outras 30 estão em recuperação judicial.
Exportação de açúcar
A exportação de açúcar pelo Brasil em 2014/2015 deverá ser 1 milhão de toneladas menor que na safra 2013/2014 e atingir em torno de 25,6 milhões de toneladas. A queda deve-se à perspectiva de uma menor produção no Centro-Sul, que deve ser de 32,5 milhões de toneladas (-5,2%).
Com relação ao etanol, Rodrigues estimou exportação inferior em 700 milhões de litros da registrada no ciclo anterior, com o volume embarcado passando de 2,5 bilhões de litros em 2013/14 para algo entre 1,7 bilhão e 1,8 bilhão de litros. A demanda mais aquecida no mercado interno e a perspectiva de menor importação pelos Estados Unidos respondem por essa redução.
Produção de bioenergia
O setor sucroalcooleiro produziu e enviou ao sistema elétrico nacional 25% mais bioenergia na safra 2013/2014, na comparação com o ciclo 2012/13. A bioenergia é produzida a partir da biomassa da cana, principalmente a palha, que é queimada para esquentar a água e gerar vapor.
Conforme a presidente da Unica, Elizabeth Farina, o setor teve papel importante para garantir o abastecimento nacional. Em 2014/2015, esse envio de eletricidade deve continuar expressivo. Embora não hajam dados oficiais, estima-se que foram fornecidos 280 mil MWh de energia de biomassa ao sistema, 71% superior ao observado em igual mês do ano passado. Em março, devem ter sido 500 mil MWh, mais que duas vezes acima do registrado em março de 2013.
O fornecimento de mais eletricidade ao sistema também é uma forma de gerar mais caixa, uma vez que os preços do açúcar estão atualmente em patamares baixos e o etanol segue pouco competitivo ante a gasolina. Em dezembro, o então presidente das Usinas Itamarati, em Mato Grosso, disse ao Broadcast que a unidade estava finalizando a instalação de um novo transformador para poder enviar 15 mil MWh à rede, o limite contratado com a CPFL. Na época, a unidade vendia 11 mil MWh.
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