Durante seis meses, uma das principais ONGs ambientalistas e uma consultoria especializada em commodities agrícolas fizeram uma projeção da demanda de terras para os biocombustíveis nos próximos cinco anos na América do Sul, onde o Brasil ocupa papel de destaque.
No aspecto econômico, foram estabelecidos três cenários, sendo o de crescimento lento o mais provável. Com este quadro, segundo o estudo, em 2014 a área plantada com soja pode aumentar em até 22 milhões de hectares e o Brasil deve ser responsável por, pelo menos, 11 milhões de hectares. Isto deve acontecer por causa do deslocamento das áreas de soja para o milho nos Estados Unidos, que utilizam a commodity para a produção de etanol. Já a área cultivada com a cana-de-açúcar pode cair em até um milhão de hectares. O Brasil tem potencial para liberar entre sete e 13 milhões de hectares para o cultivo de combustíveis limpos, com a intensificação da pecuária.
? A legislação ambiental que o Brasil já tem, com o código florestal, é em termos ambientais uma legislação excelente. Documentando essa expansão em áreas já abertas e cumprindo com essa legislação, o Brasil tem todas as condições de aumentar ainda mais as suas exportações para mercados importantes ? avalia o diretor de estratégia e conservação para a América do Sul da The Nature Conservancy (TNC), David Cleary.
Mesmo com grande potencial para atender a demanda por etanol, o Brasil ainda encontra fortes resistências. De um lado os Estados Unidos, que protegem os produtores de milho, dando subsídios. A taxa para o etanol brasileiro entrar no mercado norte-americano é de US$ 0, 54 por galão. Além disso, tem a União Européia, que exige que o Brasil prove que o seu etanol é sustentável.
O comissário da UE para Energia, Andris Piebalgs, explica que, para o bloco, os critérios de sustentabilidade são a prioridade na produção de biocombustíveis. No início do ano, a Comissão Européia divulgou um texto de proposta para a diretiva européia sobre fontes renováveis de energia. A meta é de que até 2020, 20% da energia consumida na Europa seja de fontes renováveis, sendo 10% desse total exclusivamente para o setor de transportes, o que poderá incluir o uso do etanol brasileiro. A expectativa é que o texto final desta diretiva saia em dezembro.
? Nós somos favoráveis a diretiva como ela foi construída pela comissão. Nós não sabemos ainda que vai sair em dezembro porque isso está passando pelo parlamento e conselho também. Mas a forma como ela foi construída, nos parece que ela foi correta ? explica o presidente da União das Indústrias de Cana-de-açúcar (Única), Marcos Jank.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Manuel dos Santos, a sustentabilidade é uma preocupação somente sob o aspecto econômico.
? Na nossa visão qualquer projeto precisa ser primeiro sustentado do ponto de vista social. Porque se ele for sustentado socialmente, ele terá vida longa. Segundo, ele tem que ser sustentável do ponto de vista ambiental, que mostra que nós teremos que construir uma relação com os recursos naturais.