? O interesse em pesquisas por corantes naturais aumentou consideravelmente nas últimas décadas devido às severas críticas dos consumidores, às restrições impostas pela Organização Mundial da Saúde e outras instituições aos corantes sintéticos ? destacam os autores.
De acordo com Elias Basile Tambourgi, professsor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos autores do artigo, além do uso em corantes de alimentos e de tecidos, o milho é uma fonte de antocianinas, pigmentos pertencentes ao grupo dos polifenóis ? compostos responsáveis por dar cores aos vegetais.
? As antocianinas atuam como agente antioxidante que age na inibição dos radicais livres, atuando na prevenção de doenças degenerativas como o câncer. Além disso, melhoram a adaptação à visão noturna, prevenindo a fadiga visual. São usadas como anti-inflamatório e também já foram aplicadas no tratamento contra obesidade e hiperglicemia ? disse Tambourgi.
O pesquisador ressalta a necessidade de mais pesquisas a fim de destacar a importância das antocianinas na dieta humana.
? Além disso, precisamos melhorar as metodologias de extração (quantificação e identificação), obter a composição e compreender a funcionalidade das fontes naturais ? disse.
No novo estudo, foram utilizadas duas variedades nativas de milho (Zea mays L.) peruano, roxa e vermelha, adquiridas em fazendas a cerca de 150 quilômetros ao sul de Lima. Segundo o estudo, o corante do milho roxo tem se mostrado estável.
? Chegamos a realizar testes de fixação em produtos têxteis, como algodão. O que mais chama a atenção é seu uso artesanal no Peru, na coloração de roupas. Podemos notar que esses produtos apresentam forte cor roxa, e não se deterioram ao longo do tempo, nem mesmo pela ação do calor ? disse.
Métodos de extração
Os autores destacam que as antocianinas do milho roxo foram usadas pelos incas na preparação de bebidas e no tingimento de fibras têxteis.
? Eles obtinham os pigmentos de forma artesanal, utilizando processos mecânicos através de atrito e raspagem da semente. Embora existam pesquisas indicando significativos avanços e benefícios das antocianinas extraídas do milho roxo, até o presente momento não conhecemos estudos sobre novas metodologias de extração desses pigmentos livres das substâncias químicas tóxicas.
Nos testes foram utilizados três métodos de extração: por imersão, por lixiviação e por supercrítica, que consiste em explorar as propriedades críticas do dióxido de carbono (comportamento de fluido) como solvente e promover o seu contato com o soluto, utilizando-se uma forma estática de extração.
Nos dois primeiros processos foram utilizados água deionizada, etanol, metanol, éter de petróleo, ciclo hexano e isopropanol como solventes, todos de grau analítico. E tanto no primeiro como no segundo método, o etanol foi o solvente com maior rendimento de extração dos pigmentos.
Os resultados apontaram ainda que a lixiviação (com algumas modificações) foi o método mais eficiente nas extrações dos corantes, com aproximadamente 88% de antocianinas, assim como na recuperação dos solventes.
? Mas como os dois primeiros métodos são simples, baratos e fáceis de serem aplicados, também apresentaram bons resultados. A extração do pigmento roxo pode ser realizada de modo simples e com solvente (etanol) disponível no mercado ? disse o professor da Unicamp.
O novo estudo foi feito com Felix Martin Cabajal Gamarra, da Faculdade de Engenharia Química, e Edison Bittencourt, do Departamento de Tecnologia de Polímeros, amboa da Unicamp, e com Gisele Costa Leme, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).