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Estudo revela potencial e desafios da bioindústria

Fundação Biominas apresenta diagnóstico e perfil de 253 bioindústrias em 18 EstadosHá cerca de dois meses, o Brasil conta com inédito e aprofundado diagnóstico, de referência internacional, sobre suas potencialidades e desafios para a instalação, desenvolvimento e consolidação da bioindústria nacional. A Fundação Biominas é responsável pela iniciativa, como realizadora do Estudo das Empresas de Biociências do Brasil 2009, de um trabalho pioneiro em termos conceituais, metodológicos e de abrangência.

O estudo foi lançado oficialmente durante o I Encontro Nacional de Inovação Tecnológica em Biotecnologia (Enconit-Biotec 2009), promovido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) no final de julho. A Apex-Brasil foi parceira do trabalho desenvolvido pela Biominas.

Empresas de biociências ou ciências da vida desenvolvem produtos e serviços resultantes de conhecimento acumulado sobre processos, técnicas e sistemas biológicos e das descobertas científicas mais recentes, que geralmente ocorrem dentro de laboratórios modernos e sofisticados. Elas são representantes da nova indústria, a bioindústria, que surge e avança velozmente rumo à economia mundial do futuro, já denominada por alguns estudiosos como bioeconomia.

A bioindústria promete ser uma das maiores do planeta nas próximas décadas. Nela, conhecimento científico, pesquisas e desenvolvimento tecnológico se agregam e convergem para atender as novas demandas da sociedade do século XXI, especialmente nas áreas da alimentação, agricultura, farmacêutica, química, saúde, energia, informação e meio ambiente.

? Em 2007, nós lançamos o Estudo das Empresas de Biotecnologia do Brasil, um diagnóstico setorial para monitoramento desse mercado. No presente estudo, optamos por expandir nossa análise para o setor de biociências, pois constitui um conceito mais inclusivo, que permitirá obtermos uma visão mais completa do desenvolvimento das áreas relacionadas à bio no Brasil, assim como uma melhor comparação com estudos internacionais ? esclarece Eduardo Emrich Soares, diretor-presidente da Fundação Biominas.

O Estudo das Empresas de Biociências do Brasil 2009 traz um perfil completo das empresas e do ambiente de negócios, avaliando fatores-chave para o seu desenvolvimento, de acordo com o presidente da fundação. Por ser um país detentor de um dos maiores patrimônios naturais e da biodiversidade do planeta, a bioindústria brasileira deverá ter papel fundamental no futuro do país.

Os dados estruturais e financeiros do estudo foram obtidos por meio de questionário on-line, respondido no período de fevereiro a maio de 2009. Cento e duas respostas constituíram a amostragem do trabalho, cujo erro amostral é de 6,3%. Atualmente as empresas brasileiras de biociências atuam mais na saúde humana (30,8%) e agricultura (18%), segundo o trabalho.

O que são empresas de biociências

O estudo da Fundação Biominas adotou conceito mais amplo do que a definição feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 2007, para as empresas de biociências, focada apenas na área de biotecnologia.

Isso foi feito para incluir atividades e empreendimentos além da biotecnologia e que apresentam crescimento importante no País. Desse modo, o trabalho agregou ao universo de empresas de biociências, ou ciências da vida, aquelas cujos produtos e serviços são frutos dos avanços recentes do conhecimento sobre processos e sistemas biológicos. Entre elas, se destacam: serviços de validação de novos medicamentos (ensaios pré-clínicos e clínicos) e desenvolvimento de dispositivos médicos de última geração.

As empresas biotecnológicas, segundo a OCDE, desenvolvem os seguintes produtos e serviços: DNA/RNA (genômica, farmacogenômica, sondas gênicas, engenharia genética, seqüenciamento/ síntese/ amplificação de DNA/RNA, perfil de expressão gênica e uso de tecnologia anti-senso); proteínas e outras moléculas (seqüenciamento/ síntese/ engenharia de proteínas e peptídeos, métodos de endereçamento de drogas de alto peso molecular, isolamento e purificação de proteínas, etc); cultura e engenharia de células e de tecidos; técnicas de processamento biotecnológico (fermentação utilizando bioreatores, bioprocessamento, biolixiviação, biopolpação, biobranqueamento,etc); vetores gênicos e de RNA; bioinformática (construção de base de dados de genomas e sequências protéicas, modelamento de processos biológicos complexos, etc); nanobiotecnologia (utilização de ferramentas e processos nano/ microfabricação para construção de dispositivos para o estudo de sistemas biológicos e aplicações como veículos de administração de drogas, etc).

Micro e pequenas empresas

O Estudo das Empresas de Biociências do Brasil 2009 aponta que há 253 empresas privadas ativas em pesquisa tecnológica em 18 unidades da Federação, das quais 43% atuam no segmento da biotecnologia. Até 2007, a Biominas havia identificado 181 empresas de biociências no País, o que comprova que houve aumento significativo de 50% desde então.

O setor é formado principalmente por micro e pequenas empresas (MPE) jovens, sendo que quase metade delas (47,7%) tem menos de dez funcionários, e 72,7%, menos de vinte empregados. Juntas essas empresas geram aproximadamente 6 mil postos de trabalho, dos quais 16,1% detêm título de pós-graduação; 22,4% possuem curso superior; 45,9% nível fundamental médio; e 15,6%, nível técnico.

Quarenta e cinco por cento desses profissionais estão envolvidos com pesquisa e desenvolvimento (P&D), embora possam estar trabalhando em múltiplas funções, devido ao baixo número de contratados pelo setor. O alto índice de funcionários em P&D revela a importância dos processos de P&D para essas empresas.

Faturamento

Um milhão de reais foi o faturamento de 61,7% das empresas de biociências no ano passado, sendo que a maior parte delas (44,4%) gerou receitas de até R$ 1 milhão e outra parcela (17,3%) não faturaram ainda.

Em 2008, a receita total do setor de biociências foi de cerca de R$ 804,2 milhões, com lucro agregado estimado em R$ 110 milhões, ou taxa equivalente de 13,8%. Os investimentos em máquinas, equipamentos e instalações atingiram R$ 167 milhões. Os gastos com P&D, principal atividade do setor, foram estimados em R$ 121,5 milhões.

Mesmo com o impacto dos efeitos da crise econômica internacional, empresários de biociências têm expectativa de crescimento do faturamento em torno de 27% e de aporte de investimentos de mais 9,8%, em 2009, segundo o estudo.

Nas empresas de biotecnologia, dados referentes a 2006 e 2008, apontam que há tendência de expansão das empresas que faturam acima de R$ 1 milhão e que empregam de 21 a 50 funcionários. Houve redução das empresas com até dois anos de fundação.

Patentes

Em relação ao depósito de patentes junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), os empresários se manifestaram da seguinte forma: 43,7% disseram que entraram com pelo menos um pedido de patente; 37% deles tiveram sua patente concedida. O alto índice das empresas que não depositaram patentes pode refletir a baixa compreensão dos mecanismos de propriedade intelectual e sua importância, como também a baixa atividade inovadora e alto índice de empresas prestadoras de serviço (33%) no setor, diz o estudo.

No contexto internacional, 20,7% das empresas de biociências depositaram ao menos um pedido internacional, das quais 45% tiveram sua patente concedida. O baixo índice de depósitos internacionais pode estar relacionado ao alto custo do processo e da manutenção de uma patente internacional e fraca atuação das empresas brasileiras no mercado externo.

A demora na concessão de patente foi o principal obstáculo apontado pelos empresários (50,8%), seguido pelo alto custo do processo (32,2%). Esse dado revela a necessidade do INPI se adequar para agilizar o patenteamento, assim como é necessária a disponibilização de recursos e ferramentas para financiamento à proteção da propriedade intelectual no país.

Setenta e três por cento das empresas de biociências disseram possuir parcerias formais com instituições científicas e tecnológicas (ITC). A interação universidade-empresa é tida como importante para inovar as empresas.

Sessenta e seis por cento delas, que contam com parceria com institutos de Ciências e Tecnologia (ICT), entraram com pedido de patente. Entre as que não contam com apoio de ICT, apenas 25% entraram com pedido de patente no INPI.

Exportação e políticas públicas

Apenas 11,2% das empresas de biociências exportaram com freqüência e 22,3% exportaram esporadicamente. No entanto, 30,7% dos empresários entrevistados afirmaram que querem competir internacionalmente, nos próximos dois anos.

Em relação às políticas públicas, 68,4% das empresas se declararam beneficiadas, sendo que 48,4% com subvenções; 9,5%, crédito facilitado; e 5,3% com isenção fiscal.

O governo é a principal fonte de recursos alternativos para o capital das empresas, tendo contribuído para a criação de 22,9% delas.

Ranking regional

O setor composto pelas empresas de biociências é bastante heterogêneo, de acordo com o estudo da Biominas. Diversos grupos de atividades com dinâmicas mercadológicas e financeiras diferenciadas o integram.

As empresas brasileiras de biociências atuam mais na saúde humana (30,8%) e agricultura (18%). As demais áreas são: insumos (16%); saúde animal (14%); misto (8,8%); meio ambiente (8%); bioenergia (4,4%).

As empresas estão concentradas na Região Sudeste (71,9%), das quais 37,5% estão em São Paulo e 27,7%, em Minas Gerais. Em segundo lugar, está a Região Sul, com 15% das empresas do setor e onde se destaca o Parque Científico e Tecnológico da PUC-RS (Tecnopuc), multi-temático e destinado a empresas intensivas em tecnologia que realizam P&D com pesquisadores e laboratórios da universidade (em tecnologia da informação, energia e física aplicada, ciências biológicas, saúde e biotecnologia).

As Regiões Nordeste e Centro-Oeste ainda não se destacaram no processo de geração e desenvolvimento da bioindústria e contam com 6,3% e 5,1% das empresas, respectivamente. A Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) é uma iniciativa promissora do Governo Federal e de dez universidades da Região Nordeste, que visam a constituição de profissionais em biociências e formação de recursos humanos qualificados para pesquisa de ponta e geração de patentes, produtos e empresas.

Apesar do grande potencial da biodiversidade amazônica para o desenvolvimento de bionegócios, a Região Norte aparece em último lugar, com apenas 1,7% das empresas de biociências do País. Políticas públicas para o setor nessa região são consideradas incipientes, com exceção da criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), em 2002, voltado para a promoção da inovação tecnológica, a partir de processos e produtos da biodiversidade. Somente em janeiro de 2008, foi instituída oficialmente a coordenadoria de implementação do CBA, que continua a enfrentar muitas dificuldades para seu pleno funcionamento, aponta o estudo.

Entre 2007 e 2009, a Região Sudeste reduziu sua hegemonia frente às demais regiões (de 79% para 71,9%) em contraposição com o ganho de representatividade da Região Sul (de 10,5% para 15%), devido a iniciativas locais de promoção do setor, mas que não estão relacionadas com novas empresas.

Principais pólos

Minas Gerais é considerado o primeiro pólo do setor de biociências, composto pela Região Metropolitana de Belo Horizonte, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e da Zona da Mata Mineira. Em Belo Horizonte, há 48 empresas de biociências em atividade, distribuídas em onze cidades da Região Metropolitana e que atuam nas áreas de saúde humana e insumos, destacando-se o segmento de diagnósticos. No Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, nove empresas atuam, sendo que duas estão sediadas em Uberaba, seis em Uberlândia, e uma em Araguari.

A Zona da Mata Mineira conta com oito empresas de biociências, sendo uma de Ponte Nova, uma de Ubá e seis de Viçosa. As universidades de excelência, tais como a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Universidade Federal de Viçosa (UFV) contribuem para a concentração de empresas do setor em Minass, diz o estudo.

A Região Metropolitana de São Paulo é o segundo pólo nacional, integrado por 37 empresas distribuídas em sete cidades, sendo que 38% atuam na área de saúde humana. As empresas da Região Metropolitana de Belo Horizonte são, em geral, mais maduras e apresentam maior número de funcionários, nível de faturamento e número de produtos em comercialização do que as empresas da Região Metropolitana de São Paulo.

Campinas (SP) é considerada o terceiro pólo de biociências, com 18 empresas, sendo 14 no município. A presença da Unicamp é fundamental para a criação e desenvolvimento de empresas de base tecnológica na região de Campinas, entre elas as de biociências, cita o estudo.

Ribeirão Preto (SP) é o quarto pólo nacional, onde há 16 empresas, sendo que nove estão na cidade de Ribeirão Preto, e quatro em Jaboticabal. A presença da USP e iniciativas da Supera, incubadora de base tecnológica situada no campus da universidade, onde está grande parte das empresas de biociências, são determinantes para o setor nessa região.

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro é o quinto pólo de biociências do País, com 14 empresas, sendo que 12 delas estão na capital fluminense. A presença da UFRJ e do Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (Bio-Rio) e ações de gestão e suporte da Fundação Bio-Rio são destacadas pelo estudo.

A Região Metropolitana de Porto Alegre é o sexto pólo nacional, formado por 13 empresas porto-alegrenses, seis das quais atuam no desenvolvimento e comercialização de insumos.

Metas para dois anos

Empresários entrevistados pela Fundação Biominas indicaram as seguintes ações como prioritárias, entre várias, a serem desenvolvidas nos próximos dois anos: captação de recursos financeiros (50%); identificação de parceiros para comercialização (47,7%); atração e retenção de funcionários estratégicos (37,5%); obtenção de fluxo de caixa positivo (36,4%); identificação de parceiro para desenvolvimento (31,8%); competir internacionalmente (30,7%).

Os altos custos de P&D somados ao baixo faturamento justificam a importância da captação de recursos financeiros e a preocupação com o fluxo de caixa positivo, segundo o estudo. A falta de conhecimento e estrutura para comercialização e distribuição explica o interesse por parceiros para esses fins.

A contratação e retenção de funcionários estratégicos revelam a falta de mão-de-obra qualificada para essa indústria, bem como a preocupação com a perda de profissional treinado e experiente, o que acarreta em sérios problemas.

Parcerias de desenvolvimento são a maneira de acelerar o acesso das empresas de biociências a novas técnicas e conhecimentos, assim como o de dividir riscos. O interesse de expandir e cooperar globalmente fica explícito no desejo de competir internacionalmente expresso por 30,7% dos empresários entrevistados, indicando que esse movimento deverá ocorrer nos próximos anos.

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