Quase a totalidade do lúpulo utilizado no Brasil para a fabricação de cerveja é importado, especialmente da Alemanha e dos Estados Unidos.
No entanto, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) tem testado a viabilidade da produção da planta no estado de São Paulo, obtendo resultados promissores.
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Em um experimento publicado no European Journal of Agronomy, quatro cultivares de lúpulo (três norte-americanos e um europeu) foram testados durante dois anos em Ribeirão Preto.
Dois deles (Cascade e Chinook, ambos norte-americanos) se desenvolveram de forma satisfatória, de acordo com parâmetros fisiológicos e de crescimento.
A principal dificuldade para o cultivo de lúpulo em clima tropical é a incidência de luz.
No hemisfério Norte, o verão garante cerca de 16 horas diárias de luz natural, enquanto no Brasil são até 14 horas.
Para contornar esse problema, os pesquisadores instalaram placas de iluminação artificial para ampliar o período luminoso.
Composição química do lúpulo brasileiro é semelhante à do lúpulo importado
Com o resultado promissor sobre os cultivares Cascade e Chinook, parte do grupo de pesquisadores se dedicou a aprofundar os conhecimentos sobre eles e analisou os compostos de seus óleos voláteis por cromatografia gasosa.
Os resultados foram divulgados na revista Química Nova.
“Comparamos os óleos de lúpulos produzidos em Ribeirão Preto com os de outros locais e concluímos que possuem os principais constituintes químicos encontrados no material comercial, em especial a partir do segundo ano de cultivo. Trata-se de um estudo inédito, que traz resultados importantes para a indústria cervejeira e produtores nacionais”, destaca Fernando Batista da Costa, professor da FCFRP-USP.
Os pesquisadores também avaliaram a aceitação dos consumidores de cerveja artesanal elaborada com lúpulo cultivado.
Em um experimento publicado na International Journal of Wine Business Research, consumidores de cem participaram de uma degustação de cervejas produzidas com lúpulo Cascade e Chinook cultivado em Ribeirão Preto e lúpulo importado dos Estados Unidos.
Os resultados mostraram que as amostras produzidas com lúpulo cultivado localmente receberam pontuações mais altas na avaliação dos consumidores. “Por meio de avaliação com escala de respostas e sensorial [aroma e sabor] da cerveja artesanal produzida utilizando lúpulo cultivado no campus da USP em Ribeirão Preto versus cerveja com o lúpulo equivalente vindo dos EUA os consumidores deram notas melhores às cervejas produzidas com lúpulo nacional”, destaca Costa.
Resultados abrem caminho para o cultivo de lúpulo
Os resultados dos estudos conduzidos pela USP de Ribeirão Preto indicam que o cultivo de lúpulo é viável no Brasil, inclusive em clima tropical. Isso abre caminho para o desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva no país, com potencial para reduzir a dependência da importação do produto.
“Os resultados são muito importantes para o setor cervejeiro brasileiro, que há muito busca alternativas para a importação”, afirma Fernando Batista da Costa. “Os estudos mostram que é possível produzir lúpulo de qualidade no Brasil, com um perfil sensorial que agrada os consumidores”.