Mãe de quatro crianças pequenas, Aparecida Basilisa Rodrigues vive no acampamento Nova Esperança e aguarda um pedaço de terra para sobreviver. A espera já dura três anos e a cada dia se torna mais difícil.
Antônio Aparecido de Matos compartilha a mesma angústia. Há 18 anos, espera ser assentado. Já passou por acampamentos em vários municípios, mas por enquanto ainda não conseguiu o que tanto sonha.
Quem em acampamentos que ficam no sul do MS pode ter um obstáculo ainda maior antes de conquistar um lote. É que desde o ano passado, 26 municípios estão em processo de avaliação antropológica para a criação de novas reservas. Como as terras que estão sob interesse indígena e não podem ser destinadas para a reforma agrária, a implantação de assentamentos nesta região está paralisada.
Esta situação fica clara com o balanço da reforma agrária em Mato Grosso do Sul. De acordo com o Incra, neste ano, oito áreas foram adquiridas para implantação de novos assentamentos. Todas em municípios do norte do Estado. E a perspectiva do órgão é de que as próximas aquisições sejam de fazendas que também estão localizadas na mesma região.
? Perdemos quase um terço do Estado, e justamente o de maior fertilidade. Mas mesmo assim, a reforma agrária seguirá, no norte do Estado, tentando abrir novas áreas e ajudando a desenvolver esta região ? afirmou o superintendente do Incra-MS, Flodoaldo Alencar.
Apesar das dificuldades geradas por conta da questão indígena, o superintendente regional garante que novos assentamentos ainda vão ser implantados. Este ano, a meta é assentar pelo menos duas mil famílias e superar os números do ano passado, quando mais de 16 mil hectares foram destinados à reforma agrária.
Em Mato Grosso do Sul, existem 166 assentamentos, onde quase 30 mil famílias mantêm pequenas produções agropecuárias. Outras 13 mil estão cadastradas no Incra aguardando a implantação de novas áreas. Para essas pessoas, o importante é conquistar um pedaço de terra, seja ele no sul ou no norte do Estado.
? Se só forem criados assentamentos no norte de MS, vou avaliar a região para saber se é possível produzir ou não, mas vou para qualquer cidade. O importante é ser assentada ? comentou a acampada Manuelina Brutes Morais.
? Queremos é terra. Somos pessoas agrícolas e precisamos produzir ? completou o acampado Felisberto dos Reis Leonardo.