Etanol isento de tarifas é difícil, diz Lamy

Secretário da OMC acredita que Brasil seguirá com dificuldades para transformar produto em commodityO secretário-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, deixou claro nesse domingo, dia 18, que o Brasil seguirá com dificuldades para transformar o etanol em commodity e para comercializar o combustível com outros países livre de tarifas, barreiras e como um produto sustentável ambientalmente.

? Existem duas posições: a primeira, defendida pelo Brasil, é que o etanol é ambientalmente correto, o que permitiria uma redução das tarifas nas negociações dentro do OMC ? disse.

? Mas isso pode não ser necessariamente verdade para todo o etanol do mundo e a questão é saber como avaliar o combustível, com rastreabilidade e sustentabilidade ? disse Lamy após visitar a Usina São Martinho, em Pradópolis (SP), maior processadora de cana-de-açúcar do mundo.

Acompanhado do presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, o secretário-geral da OMC, que salientou ser neutro em qualquer negociação, reafirmou que a posição do Brasil em relação ao etanol ser um bem ambiental, portanto passivo de redução de tarifas, “não é compartilhada por outros países”. Lamy deu sinais de que a questão é mais econômica e menos ambiental. Disse que o país terá de ceder caso queira reduzir tarifas e barreiras comerciais sobre o etanol e o açúcar, principalmente em relação aos Estados Unidos e União Europeia (UE).

? Esses países não dizem não (em relação à redução tarifária e ao fim de barreiras), mas dizem que dependem do que o Brasil dará em troca nas negociações ? afirmou o secretário-geral da OMC.

No entanto, Lamy admitiu que a produção de etanol e do açúcar, no caso específico da Usina São Martinho, “é um bom exemplo do que os países emergentes podem fazer para agregar valor a uma matéria-prima” como a cana-de-açúcar.

? Isso me ajuda a entender porque a Unica quer reduzir as tarifas e os subsídios ? explicou o secretário-geral da OMC.

Dificuldades

Jank, da Unica, avaliou que a visita de Lamy foi positiva para informá-lo sobre a forma de produção sustentável de etanol e açúcar, mas admitiu as dificuldades nas negociações internacionais. Sobre o etanol, o executivo da entidade criticou a posição dos Estados Unidos, que estudam manter a tarifa de US$ 0,54 por galão sobre combustível brasileiro – prevista para acabar este ano -, enquanto as tarifas de importação do país, de 20%, foram zeradas recentemente.

? Vamos esperar o que vai acontecer este ano, mas não descartamos um contencioso na OMC, que é um caminho longo e desgastante ? afirmou Jank.