O agricultor Eduardo Aparecido Gonçalves, de São João do Caiuá, no Paraná, diz que nunca viu a chuva causar tanto estrago. A umidade fez com que a mandioca apodrecesse antes da colheita e se transformasse em alimento para larvas de insetos. O preço, que já chegou a R$ 300 por tonelada, caiu por falta de qualidade.
? Na roça, eu calculo que perdi uns 20%. Além de ver no visual que a mandioca está podre, quando leva para a indústria eles querem descontar até 3%, depende da negociação da gente ? disse Gonçalves.
O longo período chuvoso também desequilibrou as lavouras mais novas. A mandioca da lavoura do agricultor Carlos Maia tem sete meses. Segundo o produtor, as plantas estão mais altas do que o padrão, mas com produtividade menor. Alguns pés mantêm a média de cinco a oito raízes, mas outros produziram só a metade.
? Isso deve acarretar uma baixa produtividade, porque você tem menos raízes no pé. A raiz se desenvolve mais, fica mais grossa e mais comprida, mas mesmo assim, na média, deve abaixar a produtividade por hectare ? disse Maia.
Com todos os problemas que os produtores estão enfrentando aqui na lavoura, a indústria resolveu se prevenir. O Paraná tem cerca de 40 fecularias, as empresas que transformam mandioca em fécula ou amido. Algumas já começaram a importar o derivado da raiz, da Tailândia.
Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (Abam), as indústrias importaram pouco, 10 mil toneladas, apenas para honrar contratos fechados com fabricantes de papel, que têm na substância a principal matéria prima.
? Como os preços estão muito elevados e os contratos são feitos com os preços fixados, para essas empresas ficaria impossível, no nível atual de preços, cumprir esses contratos. Então, a alternativa que eles encontraram foi a importação ? explicou o vice-presidente da Abam, Ivo Pierin Jr.
O Brasil produz 600 mil toneladas de fécula de mandioca por ano, e o Paraná é o maior produtor nacional. A substância tem mais de 500 aplicações. É usado, por exemplo, na fabricação de cosméticos, medicamentos, colas, explosivos e lubrificantes da indústria petrolífera.
Segundo o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura, com a redução das chuvas, o preço da tonelada da mandioca já está caindo. Esta semana, o valor fechou em R$ 276, cerca de 3% menor em relação à semana passada.