Produtores estão sendo ameaçados pelas tradings a cumprirem, mesmo sem produção, os contratos de entrega. A Defesa Civil estima prejuízos na casa de R$ 20 milhões
Pedro Silvestre, de Cláudia (MT)
O excesso de chuvas está causando transtorno e muitos prejuízos para alguns estados brasileiros. No município de Cláudia, em Mato Grosso, a adversidade climática gerou uma perda de quase metade das lavouras, Em cifras estima-se que o prejuízo já supera os R$ 20 milhões.
De longe, as lavouras de soja do produtor Cezar Golin parecem perfeitas. Mas, basta se aproximar mais das plantas para ver os estragos. São inúmeras vagens com grãos podres, outros germinando. Reflexo direto dos intensos volumes de chuvas dos últimos dias, que renderam um prejuízo milionário.
“Deu 420 milímetros de chuvas em trēs dias, aqui na fazenda. Não abre o sol e não dá para entrar na lavoura. Tenho 1.470 semeados, sendo que 470 já estão perdidos. Um.prejuízo de 1,7 milhão um milhão, mais ou menos. E as outras áreas podem ter perdas também, se o clima não melhorar”, diz Golin.
O prejuízo não se resume apenas às perdas nas lavouras, mas agora o risco de não cumprir os contratos feitos com antecedência é iminente. Golin até procurou as tradings para falar sobre o seu caso. Elas enviaram representantes para ver de perto a situação na propriedade ,e no final, recusou os grãos e prometeu executar os contratos.
“Tenho 65 mil sacos vendidos para a trading e não entreguei nada. Eles estão me ameaçando, pois acham que estou desviando, levando para outro lugar. Mas minha soja está aí, não colhi nada. Estou sem saída, peguei dinheiro no banco para comprar os insumos e agora não tenho.como pagar. Nem consigo dormir, não sei o que fazer, estou desesperado”, diz Golin.
Se correr o bicho pega, se ficar . . .
O produtor Rodrigo Giachini também enfrenta o mesmo dilema. A chuva prolongada está estragando os 600 hectares de soja, que já deveriam ter sido colhidos há dez dias. A umidade elevada também ameaça outros 10,3 mil hectares, cultivados com variedades mais tardias. Para tentar amenizar os prejuízos, o produtor tem aproveitado os raros momentos de sol para tentar colher parte da área. Mas os grãos que saem do campo estão muito danificados, o que acaba gerando descontos na hora da classificação.
“O nível de avariados está dando em torno de 45%. Tem carga com um pouquinho menos, mas não abaixa de 30. Essa área já está dando em torno de 50 sacos de quebra por hectare, estou calculando ainda que vai salvar alguma coisa, senão o prejuízo será brutal. A estimativa era colher 75 sacos por hectare”, diz Giachini.
Problema generalizado
A quebra de safra no município pode chegar a 40% dos quase 100 mil hectares cultivados em Cláudia, segundo informações do presidente do Sindicato Rural, Sérgio Dalmaso Ferreira. Preocupados, os agricultores acionaram a Defesa Civil e pedem o reconhecimento de que o município está em estado de emergência.
“Para nos prevenirmos, pois todos os produtores tem seus compromissos, oriento os produtores que temos que honrar os nossos compromissos. Mas se não houver possibilidade, temos que procurar nossos direitos!”, destaca Ferreira.
Segundo o coordenador municipal da Defesa Civil, Valdenice Galelli, não será nada difícil provar o estado de emergência, já que basta ir até a cidade para notar os prejuízos. “
“Acredito que não vai ter problema nenhum de ser decretado e homologado pela Defesa Civíl Nacional, que é o mais importante. Em uma avaliação bem rápida acredito que o prejuízo já passa de R$ 4 milhões. Mas o número pode ficar mais assustador. Tive conversando com o gerente de uma unidade receptora e ele me passou que a estimativa deles é que as perdas chegam a 350 mil sacos de soja. Se for fazer em um preço de R$ 50 por saca, ele chega bem próximo de R$ 20 milhões”, conta Galelli.