Analistas lembram que a maioria das usinas está localizada no Meio-Oeste, onde se concentra o cultivo do milho, matéria-prima para o etanol, e a distância até os portos deve encarecer os custos de transporte. Produtores norte-americanos terão de investir em usinas próximas a rios e portos para poder competir em melhores condições com o Brasil e outros países no longo prazo, disse o presidente da consultoria Randolph Risk Management, Peyton Feltus.
A menos que os preços do milho continuem a cair, será difícil para os norte-americanos se manterem competitivos no mercado mundial, afirmou. Além da questão logística, os americanos terão de superar outros obstáculos para ampliar as exportações. Em 2013, a União Europeia (UE) impôs uma tarifa de importação de US$ 83 por tonelada de etanol dos EUA.
A Comissão Europeia alegou que produtores do país vendiam o produto por um preço inferior ao de custo. Representantes norte-americanos do setor classificaram a medida como “protecionismo descarado”. Os EUA também enfrentam a concorrência do Brasil.
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, as exportações brasileiras de etanol combustível devem aumentar 7% em 2014, para 792,5 milhões de galões (3 bilhões de litros). Brasil e EUA são os maiores exportadores mundiais do biocombustível.
A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) propôs em novembro uma redução de 40% no consumo anual de biocombustíveis avançados naquele país. A proposta faz parte de uma série de ajustes defendidos pela EPA para o Padrão de Combustíveis Renováveis norte-americano (RFS), lei que define os volumes de produção e uso de biocombustíveis nos EUA. Com a medida, o volume total para este ano seria reduzido de 14,4 bilhões (54,5 bilhões de litros) para 13 bilhões de galões (49,2 bilhões de litros). Ao explicar a decisão, a EPA citou a fraca demanda por misturas de combustível com mais de 10% de etanol e pelo fraco consumo de gasolina em geral.
A Archer Daniels Midland (ADM), a Green Plains Renewable Energy e outros produtores de etanol já tentam aumentar as vendas para Brasil, México, Ásia e Oriente Médio. Uma das estratégias é reduzir custos para tornar o biocombustível feito a partir do milho mais competitivo no exterior.
Os mercados externos são uma alternativa em potencial para o escoamento de parte da produção norte-americana depois que muitos países adotaram medidas para reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, disseram executivos do setor.
Em 2014, as exportações norte-americanas podem atingir 1 bilhão de galões (3,78 bilhões de litros), volume correspondente a 7% da produção total do país, de acordo com a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês). Antes, a fatia das exportações era de 5%. Em novembro, as exportações dos EUA alcançaram o maior nível desde março de 2012, impulsionadas por embarques maiores para Canadá, China, Índia e México, disse a RFA.
A indústria de etanol do país vive um dos períodos mais lucrativos em anos por causa de uma queda de, aproximadamente, 40% nos preços do milho neste ciclo. No começo de 2014, a margem de produtores de etanol foi, em média, de US$ 0,81 por galão, ante prejuízo líquido de US$ 0,07 por galão um ano antes, segundo o Centro de Desenvolvimento Agrícola e Rural da Universidade Estadual de Iowa. Hoje, o preço do galão de etanol norte-americano está entre US$ 0,10 e US$ 0,30 mais baixo do que o brasileiro, de acordo com o analista Aakash Doshi, do Citigroup.
Unica é contrária à proposta de redução de etanol na gasolina nos Estados Unidos
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) enviou nesta quarta, dia 28, uma carta oficial à Agência de Proteção Ambiental dos Estados questionando a proposta de reduzir em 40% o consumo anual de biocombustíveis avançados naquele país. O etanol de cana-de-açúcar é considerado avançado nos EUA, que utilizam milho como matéria-prima.
A entidade considera a proposta “desnecessária e injustificada”. De acordo com a Unica, “a proposta terá dois efeitos: uma redução nos investimentos em biocombustíveis avançados por parte dos produtores e danos ambientais”.
Conforme a Unica, em 2013 foram consumidos cerca de 3 bilhões de galões (11,3 bilhões de litros) de combustíveis renováveis avançados, principalmente etanol de cana e biodiesel, no mercado norte-americano. Agora, sob pressão principalmente da indústria do petróleo, a EPA quer restringir esse volume a 2,2 bilhões de galões (8,3 bilhões de litros) em 2014. A EPA deve anunciar sua decisão final sobre os volumes a serem adotados até a metade deste ano.
“A UNICA acredita que a redução é um retrocesso significativo, que inverte o progresso que vem sendo feito com o aumento da utilização de biocombustíveis renováveis eficientes, com baixas emissões de gases de efeito estufa. A UNICA também entende que a proposta favorece o uso de combustíveis fosseis, contrariando os objetivos da Lei do Ar Limpo e o Plano de Ação Climática, lançados em junho de 2013 pelo presidente Barack Obama”, diz a nota.
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