Não é de hoje que a situação do produtor de café preocupa. Mas nos últimos meses a queda na receita com as exportações do produto deixou o cenário ainda pior. Em setembro, o Brasil exportou 12% a menos em volume do que no mesmo período do ano passado. No acumulado do ano até o mês passado em receita, houve redução de 7% e, agora em outubro, a situação não é diferente: a média diária dos embarques está 32% abaixo da registrada no mesmo mês de 2008.
A redução nas vendas externas de café tem três explicações, de acordo com o analista Eduardo Carvalhes. Primeiro, o preço baixo que tem desestimulado o produtor a vender. A safra também foi menor este ano. E o dólar em baixa prejudica os exportadores. Motivos suficientes para que as previsões continuem pessimistas.
? A tendência daqui pra frente é que os embarques mensais sejam menores que no ano anterior e também a partir de dezembro comece a cair em relação ao mês imediatamente anterior, ou seja, nós estamos em ano de ciclo baixo, a tendência é cair mesmo porque nós não vamos ter, inclusive, café suficiente para manter os números do ano passado ? avalia Carvalhes.
O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia é um dos grandes produtores de café do país. O empresário trabalha com cafés especiais, setor que não teve uma queda tão acentuada nas exportações. Mesmo assim, Quércia fez um alerta quando aos prejuízos do dólar baixo na cafeicultura.
? O café é cíclico, tem fases péssimas, e nós estamos passando por uma fase péssima. É preciso que haja alguma coisa no que tange a questão do dólar ou no que tange a questão do preço, de o governo intervir para colaborar com a política de café.
Responsável pelo escoamento de 65% da produção brasileira de café, o Porto de Santos também está sentido os reflexos da diminuição dos embarques. De acordo com a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a movimentação de contêineres caiu 20% de janeiro até agora. E a expectativa da Codesp é de fechar o ano com queda de 15% nessa movimentação.
? Essa questão do café não é somente no porto de Santos, é em nível mundial, houve redução de movimentação, em alguns portos a redução foi de mais de 30%, e a expectativa é que na virada do ano haja uma retomada de crescimento da movimentação dos café e dos demais produtos ? afirma o presidente da Codesp, José Correia Serra.
Ele lembra ainda que a redução dos embarques teve um lado bom. Os investimentos de quase R$ 5 bilhões previstos para os próximos três anos e que devem triplicar a capacidade do Porto de Santos no médio prazo continuam de pé.
? Nós sabemos que é uma coisa meramente pontual. Estamos acelerando os investimentos porque houve uma diminuição da pressão logística sobre o porto, sobre a infraestrutura do porto.