Já os calçados de couro registraram vendas de 27,7 milhões de pares, uma queda de 5,1% em relação ao ano passado. Mesmo com a queda no volume embarcado, a receita das exportações de calçados de couro cresceu 4,8%, chegando a US$ 729,4 milhões. A disparidade se explica pelo valor maior valor agregado dos calçados de couro.
? Uma coisa é calçado, que pode ser fabricado em diferentes materiais; outra coisa é sapato em couro. Sintéticos e injetados agregam menos valor”, explica Ricardo Wirth, vice-presidente da Abicalçados.
Na semana passada, a Abicalçados divulgou dados mostrando que as exportações totais do setor calçadista, que conta majoritariamente com a presença de micro e pequenas empresas, cresceram 11,5% em valor e 16,4% em volume nos nove primeiros meses deste ano. A balança comercial do setor registrou saldo positivo de US$ 900,2 milhões, 12,4% a mais do que no mesmo período de 2009. O detalhamento dos números mostra que os sintéticos foram os responsáveis por esse crescimento.
De menor valor agregado, os calçados injetados (plástico) e sintéticos (têxtil, couro sintético, etc) são fabricados principalmente pelas fábricas instaladas na Região Nordeste, especialmente no Ceará, campeão de crescimento nas exportações do setor calçadistas. A alta cearense foi de 40,7% em volume e 42,3% em receita, em relação ao período de janeiro a setembro de 2009.
Câmbio
Enquanto o Nordeste contribui cada vez mais para as exportações do setor, em termos de volume, os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, onde estão os principais pólos de calçados em couro do País, continuam em queda ano a ano.
? A produção de sapato em couro é intensiva em mão de obra. Nosso produto ficou muito caro, devido à taxa cambial, que não favorece os exportadores de manufaturados ? ressalta Wirth.
Importadores de menor porte da Europa e Estados Unidos estão garantindo a continuidade da exportação dos calçados em couro, acrescenta.
Uma das saídas para o setor calçadista seria a redução do chamado ‘custo Brasil’ (tributos, taxas, etc), observa Wirth. As indústrias de outros países estão correndo atrás de menores custos. As fábricas européias de calçados, por exemplo, começam a se instalar em países africanos, onde o preço da mão de obra é menor. Elas já estão no Marrocos, Tunísia e Etiópia. Sem falar nos países asiáticos, como Indonésia e Malásia.
Essa tendência começa a chegar ao mercado brasileiro. “Uma fábrica brasileira foi para a Nicarágua, pois é mais barato produzir lá”, informa o dirigente da Abicalçados. Um trabalhador nicaraguense recebe em torno de US$ 100 por mês, valor comparável ao do mercado chinês.
Para Wirth, a valorização do real está distorcida e a cotação da moeda está longe do patamar razoável. Ele cita o euro como comparação.
? A moeda européia oscilou entre US$ 1,20 e US$ 1,60 e atualmente está em torno de US$ 1,40. O real chegou a US$ 3,50, há oito anos, e hoje está em US$1,67 ? observa.
? Enquanto o dólar ficar no nível em que está, teremos queda nas exportações, principalmente nos calçados em couro ? lamenta.
Por outro lado, Wirth elogia a medida antidumping instituída pelo governo, em maio deste ano, sobre as importações de calçados asiáticos.
? Essa medida ajudou a segurar o mercado interno. As importações vinham crescendo em progressão geométrica. Se (a medida) não tivesse ocorrido, estaríamos produzindo menos para o mercado interno ? explica.
Wirth estima que a produção de calçados, este ano, deverá fechar em torno de 800 milhões de pares. O total das exportações deverá ficar em aproximadamente 140 milhões de pares.
? O grande destino da indústria calçadista hoje é o mercado interno. As empresas que estão posicionadas nesse sentido não param de crescer e expandir seus negócios ? conclui.