Quando iniciaram as atividades produtivas no assentamento, há cerca de dez anos, os agricultores não imaginavam que pudessem prosperar tanto. Plantada em áreas de reserva legal, a extração da castanha deve ser feita de forma sustentável para que não haja prejuízos ao meio ambiente. Aliado a isto se somava a falta de conhecimento dos agricultores sobre as técnicas de extração e a carência de infraestrutura para processamento da produção, o que representava um risco para a viabilidade econômica da atividade.
Em 2008, eles se organizaram e formaram a Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam). Com o apoio de iniciativas governamentais, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) ? através do Projeto de Conservação e Uso Sustentável das Florestas no Noroeste de Mato Grosso ? e de parcerias locais, as famílias conseguiram recursos e capacitação para construir uma fábrica de beneficiamento da castanha.
Assim, passaram a produzir amêndoas e biscoitos que hoje são utilizados na merenda escolar de seis municípios da região e comercializados para empresas do sudeste e sul do país. A fábrica garante a renda de cerca de 80 famílias e gera mais de 300 empregos.
? Tem agricultor que ganha até R$ 600 por mês com a atividade ? contabiliza Irineu José Bach, um dos membros da cooperativa.
A quebradeira de castanha, Elinay Silva Santos, decidiu começar a trabalhar na fábrica para obter sua independência financeira.
? Gosto muito de comprar roupa, perfume, essas coisas de mulher, e meu marido, não é sempre que ele pode ficar me dando essas coisas. Então eu entrei na fábrica e comecei a gostar de trabalhar. E vou continuar ? assegura a agricultora.
Com a instalação da micro-usina de extração de óleo, a expectativa de Irineu é que a produção seja triplicada. Quando funcionar em plena capacidade, a usina poderá extrair 40 quilos de óleo por hora, que serão vendidos à Natura para a fabricação de sabonetes e cremes comercializados dentro e fora do Brasil.
O processo de extração do óleo também gera um resíduo que poderá ser transformado em farinha de castanha e outros subprodutos, incrementando a produção dos cooperados.
O assentamento Vale do Amanhecer tem pelo menos 2,5 mil árvores de castanha-do-Brasil. Além da coleta feita no próprio assentamento, para atender à demanda, a cooperativa também compra a produção de várias comunidades de agricultores familiares, extrativistas e povos indígenas das bacias do rio Juruena – como os Rikbaktsa e os Apiacás-Caiabi-Mundurucu-, do Rio Aripuanã ? como os Cinta-larga e Suruí ?, além dos seringueiros da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt. Ao todo, em 2010, foram adquiridas pela Coopavam 87 toneladas de castanha in natura, gerando uma renda bruta superior a R$ 500 mil.