Para o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ligada à Universidade de São Paulo (USP), Edgar de Beauclair, a hegemonia brasileira na produção de etanol não é tão segura.
? Estamos longe do berço esplêndido, e a pesquisa está relegada ? alerta.
? O país corre o risco de perder a liderança. O Brasil investiu pouco em tecnologia de segunda geração para a produção de álcool ? destaca o especialista em energia Clóvis Zapata, do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (ligado às Nações Unidas).
Ele explica que o país engatinha na produção de biodiesel, quando se considera os investimentos feitos por europeus e americanos para extrair álcool da celulose.
Apesar de já usar o bagaço na geração de energia elétrica, a tecnologia que o Brasil domina para o combustível é a mesma do final da década de 1970, que retira o álcool do suco da cana moída (garapa) e não aproveita dois terços do que a planta potencialmente oferece. O professor Edgar de Beauclair destaca que essa falta de aproveitamento permaneceu mesmo no momento recente de alta de preço do combustível.
O representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado, discorda do prognóstico e afirma que a pesquisa está avançando. Porém, segundo ele, é preciso desenvolver uma fábrica que produza etanol de segunda geração em volume e em custo compatíveis com o de primeira geração.
? [É necessário também] plantas industriais mais eficientes a ponto de baixar a diferença de custo ? afirma.
Prado calcula que a diferença de custo entre os dois tipos de álcool já baixou significativamente nos últimos cinco anos.
? Em 2006, o etanol de segunda geração custava de nove a dez vezes a mais. Hoje essa projeção é 1,8.
O chefe de pesquisa da área de Agroenergia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Esdras Sundfeld, afirma que as pesquisas estão sendo realizadas e que podem crescer com o aumento da participação do capital estrangeiro no setor.
A Embrapa encerrou neste sábado, dia 21, a Feira Agrobrasília, promovida na capital federal, onde está exposta a tecnologia que processa o bagaço da cana para fazer combustível. Além da empresa de pesquisa, há expectativa de que a Petrobras invista na segunda geração do etanol.
O plano de negócio da subsidiária Petrobras Biocombustível é de, em 2014, atingir a produção de 2,6 bilhões de litros de etanol. Atualmente, a empresa tem participação em dez usinas, com capacidade de produção de 942 milhões de litros.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia cerca de 200 projetos na área de biocombustível, inclusive de etanol. Este ano, por causa dos cortes orçamentários, o conselho não lançou nenhum edital para pesquisa no setor.