O produtor Felipe Fonseca cultiva hortaliças em 3,5 alqueires na região metropolitana de Guarulhos. Só de cebolinha são 400 maços por dia. Produtor familiar, Felipe poderia fornecer suas hortaliças para a merenda das escolas municipais. Mas, ao invés disso, ele se dirige todos os dias até o Ceagesp, em São Paulo, para vender seu produto. Ele reclama do descaso da prefeitura.
? A prefeitura tem que ajudar mais. Arranjar entregas para a gente aqui em Guarulhos, para escolas e creches ?falou Felipe Fonseca.
O que falta é a declaração de aptidão ao Pronaf, que é o programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar. Só com o documento, Felipe Fonseca poderia passar a fornecer seus produtos para a prefeitura. O que impede a concessão deste certificado é algo que foge do controle dele. De acordo com o zoneamento urbano de Guarulhos, a propriedade está em área urbana e por isso não se qualifica para o programa. O problema afeta outras 93 famílias da região, e o pior, as soluções parecem bem distantes.
? Tem que haver uma mudança na legislação se é para que eles tenham acesso a essa política pública de produtores familiares, a gente sabe que eles são familiares e que se enquadram ? observou João Pimentel, diretor da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.
À espera de uma solução, produtores locais procuram outras formas de melhorar os negócios.
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estende a mão e traz o conhecimento que faltava. Diversos produtores da região de Guarulhos estão aderindo ao programa de agricultura orgânica oferecido pelos estudantes. Uma mudança que leva tempo, mas aumenta a rentabilidade.
? Tem certas vantagens que os produtores gostam: o nicho de mercado é grande; o preço é diferenciado, e, principalmente, o custo de produção. Isso, principalmente, pela redução de insumos, que é o que mais onera a produção ? declarou Paulo Henrique Lima, Engenheiro Agrônomo da UFSCar.
Felipe Fonseca está animado para começar a colher os primeiros orgânicos no começo do ano que vem. A expectativa é reduzir o custo de produção em 50% e vender a um preço 70% mais alto que o produto que utiliza agrotóxicos.
? Se der certo, tudo vai virar orgânico. Se a prefeitura ajudar a gente, é o que vamos fazer ? disse Fonseca.
O projeto é realizado em parceria com a prefeitura de Guarulhos, que planeja também criar uma feira de orgânicos para a venda direta ao consumidor.
? E para os que não aderiram ao cultivo orgânico, vamos fazer uma feira para venda ao consumidor e para 2013 um centro de distribuição para fornecimento direto aos atacadistas ? declarou Carlos Artur Salgado, gerente da Divisão de Agricultura do Fundo Social da Prefeitura de Guarulhos.