Feijão brasileiro esvazia críticas contra transgênicos, avalia pesquisador da Embrapa

Segundo especialista, o organismo geneticamente modificado terá repercussão mais forte entre os pequenos produtoresA liberação comercial da semente de feijão, do tipo carioquinha, geneticamente modificado e desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) esvaziou o discurso dos opositores aos transgênicos, opina o pesquisador da estatal Francisco Aragão.

? Durante muitos anos, as pessoas que são contra essa tecnologia sempre disseram que é uma tecnologia para grandes produtores, para commodities (produtos básicos de comercialização no mercado financeiro), e feita apenas por empresas multinacionais. O feijão mostra que não é isso, mas uma tecnologia para os programas de melhoramento, até para subsistência ? assinala Aragão.

O feijão GM Embrapa 5.1 é resistente ao vírus do mosaico dourado (transmitido por um inseto popularmente conhecido como mosca-branca), principal praga que ataca a cultura no Brasil e na América do Sul.

Segundo o pesquisador, o organismo geneticamente modificado (OGM) terá repercussão mais forte entre os pequenos produtores, responsáveis por sete de cada dez grãos de feijão produzidos no Brasil e sem recursos para fazer o controle químico do vetor que transmite o vírus.

? O pequeno agricultor vai deixar de jogar veneno, vai deixar de se intoxicar e de poluir o meio ambiente ? complementa o presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva.

Segundo ele, a Embrapa é uma das poucas empresas públicas no mundo que podem enfrentar a concorrência de multinacionais ? diz se referindo às empresas norte-americanas Monsanto e Pioneer, à DuPont (de capital francês), à suíça Syngenta e às empresas alemãs Basf e Bayer. Diferentemente das grandes companhias, a Embrapa não cobra royalties das suas sementes.

O Brasil é um dos maiores importadores de feijão do mundo, compra da Argentina, da Bolívia e da China. Segundo Francisco Aragão, a Argentina já demonstrou interesse pela semente desenvolvida pela Embrapa.

Aragão salienta que a semente ainda não está disponível para a comercialização, pois é preciso fazer o registro da variedade no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o que depende de novos testes.

Na avaliação do pesquisador do Laboratório de Engenharia Ecológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) José Maria Ferraz, as avaliações sobre o feijão e os eventuais efeitos do consumo não são suficientes. Segundo ele, foram feitos testes apenas com dez ratos por 35 dias.

? É um número insignificante, nenhuma revista do mundo aceitaria um artigo para a publicação com o número pequeno assim ? reclama Ferraz que é pesquisador aposentado da Embrapa, e membro da CTNBio.

O presidente da CTNBio assegura que o feijão da Embrapa não traz riscos. Segundo Edilson Paiva, o transgênico tem exatamente as mesmas proteínas e as mesmas concentrações médias de nutrientes que o feijão convencional.