Quase 30 dias sem chuva já comprometeram a produção de feijão no Distrito Federal. Entre os agricultores, a expectativa com o bom preço pago pelo grão, que era alta até duas semanas atrás, se transformou em frustração. Na área de 140 hectares da fazenda de Luiz Angelo Cappellesso, em Paranoá, no Distrito Federal, a perspectiva era a melhor possível:
“Adubação de boa qualidade, folear, fungicida, o que era para fazer foi feito, para colher uma produção estimada em três mil quilos por hectare”, conta o produtor.
Dados que o engenheiro agrônomo Eduardo Nascimento reforça: “Era o melhor feijão. Até 15 dias atrás, era o melhor feijão até hoje”.
Mas quase um mês sem chuva depois, as consequências na lavoura são irreversíveis. A perda é praticamente total, 95% das plantas morreram ou formaram pouquíssimas vagens. O que vai ser colhido não paga nem o custo da lavoura.
Cappellesso tem pés de feijão com cinco, seis vagens, onde deveria ter mais de 20. A vagem que produziria oito grãos, rendeu um, dois. Além de perder em quantidade, a lavoura não vai ter a mesma qualidade.
“É um sentimento de perda mesmo. Perda na produção. A nosso autoestima está lá pra baixo. Aqui é o nosso emprego, o que a gente sabe fazer é plantar, produzir. E enfrentar uma seca como essa…”, lamenta o produtor, avaliando que um mês de dezembro tão seco e de temperaturas altíssimas, a cultura não suporta.
O engenheiro agrônomo da fazenda explica que uma das opções era dessecar a lavoura e plantar milho, mas a escolha foi arriscar no feijão.
“Vamos segurar essa lavoura por enquanto, com expectativa de colher 10, 15 sacos que seja. Pode piorar, porque se não chover, pode ter perda total”, considera Nascimento.
Com a quebra na produção do Sul do país em função da chuva, o preço do feijão subiu e os produtores chegam a receber até R$ 150 pela saca. Era nessa alta que a maioria dos produtores do Distrito Federal que não trocou o feijão por soja ou milho estava apostando.
“As lavouras de feijão perderam no mínimo 50% de produtividade. Se estavam esperando 50 sacos, vão colher 25, 30 sacos. A nossa empresa é a céu aberto. Isso causa um transtorno muito grande. O agricultor planta um sonho, e olha o que nós vamos produzir”, lamenta o engenheiro.
Cappellesso não esconde o incômodo: “A gente fica frustrado em ver que a cultura hoje está nessa situação que não tem volta”.