A queda de mais de 50% nos preços ofertados pela saca de 60 kg do feijão carioca tem gerado indignação nos produtores em Mato Grosso. A principal suspeita é de que haja alguma manipulação nos preços, causada pelos compradores de outro estado.
O produtor rural Lino José Ambiel tem um estoque de quase quatro mil sacas de feijão para negociar. Os preços oferecidos, no entanto, não estão nada animadores, desestimulando a cultura.
“Dentro de 30 dias os compradores sumiram. Depois vieram com esse preço de R$ 120, R$ 130 (antes o valor ultrapassava R$ 400) e, mesmo assim, ainda está difícil encontrar compradores. Isso aí foi de desanimar de vez. Agora tem que correr atrás das contas. Poderia ter um preço mínimo que o governo bancasse ou fizesse um Pepro para ter uma garantia de um preço mínimo”, disse.
A solução encontrada pelo produtor foi trocar a cultura. Hoje, Lino acompanha o desenvolvimento da lavoura de soja. A expectativa é de boa produtividade e lucro.
Outro produtor que está desanimado com a situação é Lucas Costa, que acabou negociando o produto bem abaixo do esperado. A remuneração, segundo ele, não paga nem os custos. O prejuízo calculado é de R$ 400 reais por hectare, e o produtor ainda tem 60% das safra para vender.
“Até uns dias antes de colher estavam ofertando em torno de R$ 320. Logo que colhi, por azar, sumiram os compradores, e os preços inexplicavelmente despencaram. Eu achei muito estranho porque antes os próprios compradores falavam que feijão tinha espaço para mais altas. Hoje, no preço que está, não fecha custo, a lavoura está muito alta, muitas aplicações, problemas de mosca branca, problema de ácaro, energia elétrica praticamente triplicou nos últimos três anos. O clima seco exigiu mais da irrigação e, com esse custo no valor de hoje na saca de feijão, o produtor praticamente está empatando ou fechando o custo no negativo”, analisa.
De acordo com a Associação de Proutores de Feijão, Trigo e Irrigantes de Mato Grosso, foram cultivados mais de 25 mil hectares do produto irrigado nesta temporada. A média de produtividade foi de 32 sacas por hectare. A estimativa é que apenas 50% a produção foi comercializada até o momento. O dado gera questinamento entre os agricultores, que cobram transparência nas negociações.
“Feijão é uma cultura que você não consegue fazer um contrato futuro, sabemos o histórico de pessoas no passado que fizeram contratos. Se os preços subiam, os compradores voltavam para levar esse feijão. Se os preços caiam, sumia os compradores que tinham fechado esses contratos. Então, é um mercado ainda que ainda está caminhando para uma coisa mais profissional. Hoje ainda é muito amador, tem pessoas sérias no meio, mas tem pessoas sem credibilidade. Então, o produtor não tem garantia de fazer um contrato e o balizamento de preços. Nós também não sabemos de onde são tiradas as referências no país”, completa Lucas Costa.