Já tem 13 anos que Marcos José Macedo produz cachaça orgânica num sítio em Arealva, próximo a Bauru (SP). O produto dele tem selo de certificação, já foi até exportado, mas falta alguma coisa pra que esse seja de fato um bom negócio pra ele.
? Maior conhecimento da população em geral sobre produto orgânico e produção orgânica. Isso seria um fator primordial não só pra cachaça, mas pra todos os produtos orgânicos hoje produzidos ? disse Macedo.
Para a empresa do gerente de marketing Eric Arthur de Azevedo, que trabalha com produtos de limpeza e cosméticos, vender orgânicos já é um bom negócio. Foi na feira do ano passado que a empresa fechou contratos de exportação para os Estados Unidos. As vendas começaram em junho, e em pouco tempo eles dobraram o faturamento.
? Até agora nossa maior preocupação é o mercado europeu. Nós não partimos pra lá ainda e com certeza tem um potencial muito grande. Então, uma vez que agora estamos nos Estados Unidos, queremos primeiro nos consolidar lá, uma vez consolidado lá vamos pro mercado europeu ? projeta Azevedo.
Sem dúvida, o forte da Biofach 2008 são os negócios feitos a partir daqui. Não é pra menos que participam mais de 300 expositores, a maioria empresas. Mas hoje, quando se fala em produção orgânica no mundo e no Brasil, é preciso relacionar também com tecnologia. Foi-se o tempo em que este sistema de produção era visto como alternativo. Alias, alternativos não sobrevivem mais neste mercado que já movimenta US$ 30 bilhões em negócios no mundo. Só no Brasil, US$ 250 milhões. Definitivamente, um negócio pra muitos.
Mesmo em tempos de crise como agora, diz Maria Beatriz Costa, que integra a organização da feira, o mercado está consolidado, e a crise desvaloriza sim a especulação. Não a produção, que, alias, está cada dia mais profissionalizada.
? Nós já temos uma lei. Eu acho isso fundamental tanto pro ponto de vista externo, de exportação, que nos dá credibilidade, como pro consumidor interno, que tem a segurança que o governo está garantindo que aquele produto é um produto orgânico.
Por isso é fundamental hoje a participação de instituições de pesquisa em eventos como este. O engenheiro agrônomo da Embrapa Ernani Jardim Reis representa aqui o trabalho feito pela unidade de agrobiologia da instituição e ajuda a divulgar o sistema orgânico. Para quem produz e para quem faz negócios também.
? A gente entende que o ambiente de negócios deve ser apoiado pelo ambiente do conhecimento científico e tecnológico. Acho que as coisas andam juntas ? diz Reis.
A idéia de produção orgânica está muito ligada também à sustentabilidade, principalmente na agricultura familiar. O produtor Rogério Silva diz sua que a família trabalha assim. Eles produzem castanha no Ceará, adotando o sistema orgânico, com mão-de-obra familiar, e tem mercado garantido. Associados a uma cooperativa, eles não têm mais que 10 hectares de plantação, mas na feira em São Paulo, o pequeno produtor diz que se sentiu como um grande.
? Vou levar troca de conhecimento. E vamos aplicar esta idéia de ter produtos orgânicos e a agricultura, porque acho que hoje os grandes empresários necessitam desta agricultura ? declara.
A Biofach ocorre até o dia 25 de outubro. Paralela à feira acontece também a Exposustentat, com debates sobre sustentabilidade na produção agrícola do Brasil.