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Ferrugem asiática: veja os sinais que o clima dá

Segundo a meteorologia, nenhuma lavoura brasileira de soja ficará sem chuva nesta safra. Mas isso pode não ser bom

Fonte: Wanderlei Dias Guerra/ Abimaq

As previsões climáticas indicam que não vai faltar chuva em nenhuma região produtora de soja do Brasil nos meses de desenvolvimento das lavouras. Tal informação, que deveria ser recebida como uma boa notícia pelos produtores, entretanto, preocupa. Isso porque essas condições são excepcionais também para o desenvolvimento da ferrugem asiática, doença provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.

De acordo com o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, nesta safra o clima está mais favorável à incidência da ferrugem do que na safra passada. Além das chuvas regulares, que propiciam um ambiente ideal para o desenvolvimento do fungo, outras questões pontuais podem facilitar a disseminação da doença.

“As chuvas registradas em agosto em Mato Grosso, por exemplo, que não são comuns nessa época do ano, fizeram com que sementes de soja que caem em beira de asfalto, as chamadas guaxas, brotassem em diversos pontos do estado. Com isso, os esporos da ferrugem já encontram condições para se desenvolver”, explica.

Outra situação verificada neste ano é o registro de uma primavera com as águas do oceano Pacífico mais frias que o normal. “Nessa condição, há a predominância de ventos sul. Eles são responsáveis pelo transporte dos esporos da ferrugem do Paraguai e da Bolívia para o Brasil”, diz Santos.

Já no estado do Paraná, apesar da expectativa de chuvas regulares, está havendo um intervalo maior entre os dias chuvosos, o que favorece a ação do produtor no controle da doença, explica Senio José Napolis Prestes, fitopatologista da Fundação ABC, de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário. A entidade monitora lavouras por meio de estações automáticas posicionadas em 75 municípios nos estados do Paraná e de São Paulo.

Nesses monitoramentos, são verificados tanto os comportamentos das plantas, como as condições das doenças. É possível saber, por exemplo, o número de horas que as folhas de determinadas lavouras permaneceram molhadas. As informações colhidas são apresentadas sob a forma de gráficos diários no site sma.fundacaoabc.org. Os gráficos apontam, entre outras informações, a favorabilidade climática para a ocorrência de doenças em determinadas regiões.

Essas informações ajudam a prevenir as doenças. “Isso é fundamental, uma vez que a tendência é de uma maior incidência de ferrugem este ano”, diz Prestes. Ele alerta, portanto, para que os agricultores acatem as recomendações para a associação de fungicidas de sítio único com multissítios de maneira preventiva.

“Antes do pré-fechamento das lavouras, situação que dificulta o depósito dos pesticidas, mesmo que não haja foco da doença, é necessária a aplicação dos fungicidas para que seja protegido o terço baixeiro da planta, que é a parte mais difícil de ser observada”, orienta Prestes. Para ele, a ferrugem ensinou o produtor de soja a viver em comunidade, “pois todos devem realizar o controle e compartilhar as melhores técnicas para o benefício de toda a cadeia produtiva”, diz.

Daí a importância de respeitar também as orientações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) quanto ao vazio sanitário e a calendarização da semeadura de soja, estratégias que favorecem o manejo da ferrugem.

O vazio sanitário é o período sem cultivo de soja no campo, que deve ser de, no mínimo, 60 dias, dependendo da região produtora, para que seja reduzida a sobrevivência do fungo que causa a ferrugem, que, por ser biotrófico, precisa de hospedeiro vivo para se desenvolver.

Já a calendarização da semeadura é a determinação de uma data limite, que varia de estado para estado, para o cultivo da soja. Neste caso, o objetivo é reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e, assim, reduzir também a pressão de seleção de resistência do fungo, uma vez que já verificou-se que alguns fungicidas ampliaram a resistência dos fungos que não são sensíveis aos triazóis, estrobilurinas e carboxamidas.

A boa notícia é que em meados de dezembro o plantio da soja no Brasil estava quase finalizada, apesar de ter começado com atraso devido à falta de regularização do regime de chuvas. “Voltou a chover bem e houve recuperação do atraso. Isso é bom porque o período com soja no campo não será estendido, o que reduzirá a pressão da ferrugem”, diz Prestes.

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