Fevereiro encerra com preços do trigo 10% mais altos no Brasil

Sustentação do movimento está no comportamento das cotações no âmbito globalO mercado brasileiro de trigo encerrou o mês de fevereiro com preços cerca de 10% superiores aos praticados no mesmo período de janeiro. Comparado ao mesmo período do ano passado o avanço fica entre 15% e 20%. Este era um movimento esperado e cuja sustentação está no comportamento das cotações no âmbito global.

? Contudo, a firmeza apresentada nos preços do mercado interno ocorre num momento de lentidão no ritmo dos negócios ? destacou o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento.

A intensificação da colheita da soja faz com que o trigo fique em segundo plano. No lado da oferta, o trigo que não foi escoado antes do início da colheita da soja fica impossibilitado de ser retirado dos armazéns. No transporte, a forte demanda gerada pela safra de verão eleva os fretes.

Um exemplo disso é o frete de Maringá/PR até São Paulo/SP, que em média fica em torno de R$ 70/tonelada e nesta semana era indicado a R$ 85/t. Desta forma, além da alta apresentada no preço do cereal (FOB), o moinho precisa adicionar os R$ 15 de alta do frete. Nesta sexta, dia 4, base de compra esteve em R$ 510/t e R$ 520/t no interior do Paraná e entre R$ 490/t e R$ 510/t no Rio Grande do Sul.

De qualquer forma, os preços internacionais ainda deixam espaço para novas recuperações no mercado brasileiro. Na Argentina, por exemplo, no final de julho de 2010 a tonelada era cotada a US$ 210. Neste momento está em US$ 345/t (64%). No mesmo período a elevação no Brasil foi de apenas 25% (em dólar).

Os importadores, como o Brasil, sentem os reflexos desta alta internacional pela paridade de importação. Num exemplo numérico, em julho de 2010, o trigo argentino, partindo do FOB a US$ 210, chegaria ao CIF do mercado paulista a US$ 264/t. A taxa cambial era de R$ 1,78 por dólar. Então, o custo de importação do trigo argentino era de R$ 470/t. Neste caso, para competir com o produto importado, o produtor do norte do Paraná seria obrigado a vender a R$ 390/t no FOB.

Porém, é preciso lembrar que os preços praticados no Brasil têm relação direta com o comportamento dos preços internacionais. Por isso, qualquer projeção futura tem que partir do cenário macro para o micro. O quadro de oferta e demanda mundial para a temporada 2010/11 já está definido, com uma redução próxima a 20 milhões de toneladas dos estoques mundiais, de 197 para 177 milhões de toneladas.

As atenções agora se voltam para o ano comercial 2011/2012, que inicia em junho de 2011 e vai até maio de 2012. A demanda não costuma sofrer movimentações bruscas. Sendo assim, as novidades normalmente vêm do lado da oferta. A queda dos estoques de passagem faz com que, para manter a oferta total inalterada, o mundo tenha que produzir 20 milhões de toneladas a mais que os 646 milhões de toneladas produzidos na safra 2010/11.

? Ou seja, qualquer produção abaixo de 666 milhões de toneladas resultará em novos recuos dos estoques finais e garantirá suporte fundamental para os preços seguirem operando com firmeza ? explicou Bento.

Por outro lado, se a produção for superior a este patamar, poderá pressionar as cotações internacionais. Vale lembrar que a safra 2010/11 sofreu com problemas climáticos. No biênio anterior as safras foram de 684 e 683 milhões de toneladas. Uma eventual repetição destes números seria extremamente baixista para o mercado.

? Por tudo isso, falar em tendência de preços neste momento é tarefa inglória, pois é um momento de transição de safra mundial e ainda não temos números confiáveis da produção global ? disse Bento.

Assim, é preciso seguir atento aos números a serem divulgados nos próximos meses pelo IGC (Conselho Internacional de Grãos, na sigla em Inglês) e principalmente pelo USDA (Departamento de Agricultura norte-americano).