Caminhoneiros deram trégua nos bloqueios até o final das negociações com o governo; Aprosoja-MT acredita que prejuízos são pontuais e recuperáveis
Fernanda Farias | Rondonópolis (MT)
Aos poucos, as estradas de Mato Grosso vão sendo novamente ocupada pelos caminhões. Alguns motoristas, a maioria autônomos, seguem parados. Um deles é Valdecir Becker, com mais de 30 anos de profissão. Na última viagem, ele rodou 1.600 km do Paraná até Rondonópolis.
– Não lucrei nada, sobrou R$ 900,00, descontando combustível e pedágio. Tira a minha despesa e manutenção, como vou fazer sobrando R$ 900,00? Não tem como. Não volto para a estrada. Enquanto puder aguentar, vou aguentar – protesta.
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O movimento dos caminhoneiros decidiu parar com os bloqueios até 10 de março, enquanto acontecem as negociações, principalmente sobre o aumento no valor do frete. A categoria reivindica uma tabela única de valores, considerando o número de eixos e os km rodados.
O governo prometeu analisar a proposta. Já os manifestantes prometeram voltar com os bloqueios caso a proposta não avance. É o que garante o empresário Paulo Rossato, que durante os bloqueios manteve 13 caminhões parados e deixou de transportar 1,5 milhão de toneladas de grãos.
– Se as negociações não avançarem e a gente não tiver nenhum benefício, nós voltamos a trancar a pista. Porque o transportador estava trabalhando com um frente que não conseguia manter o caminhão, quanto mais o parcelamento dele – reclama.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) estima que faltou combustível em 20% das fazendas do médio-norte do Estado, o que atrapalhou a colheita da soja em um momento importante. Para o presidente da associação, Ricardo Tomczyk, o prejuízo e a redução da qualidade do grão são pontuais.
– Nós conseguimos um documento da Abiove se comprometendo com a melhoria da remuneração do transporte, o que ajudou bastante o convencimento dos transportadores a pararem com os protestos e permitirem o fluxo de combustíveis. Nos termos de prejuízos, acredito que muito disso vamos conseguir recuperar agora – projeta.
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O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, acredita que as negociações estão avançando e que a solução deve ser questão de tempo.
– Nós temos respeito e identificação com o pleito dos caminhoneiros. Não é só o frete que está motivando (a greve), mas eu entendo que o diálogo está fluindo. Alguns pleitos têm sido alcançados ou serão alcançados – comenta.
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