Diante da presença da polícia, o produtor Egídio Carneiro acabou recebendo a equipe. Aos 75 anos de idade, nunca se imaginou passando pela atual situação. Segundo ele, o futuro do pequeno sítio de 13 hectares é incerto.
– Nunca esperei por isso, eu tinha uma propriedade em Ernestina (RS), vendemos lá e compramos aqui. Agora, só Deus sabe, mas não vamos sair, vamos trancar o pé – afirmou Carneiro
Representantes da Funai explicam que as informações coletadas na região serão levadas à Brasília e cruzadas com o mapa da área pleiteada pelos índios. O próximo passo será a publicação de um edital com a lista dos produtores que podem ser retirados das suas casas para a demarcação.
Assim como no caso de Carneiro, outras 250 famílias de produtores rurais de Mato Castelhano também podem perder suas terras, o que faz com que o clima entre eles seja de muita apreensão. A Funai reivindica aproximadamente 3,55 mil hectares no município, sendo que pelo menos dois terços desta área são de terras produtivas.
A insegurança jurídica levou muitos produtores a bloquearem o acesso a suas fazendas. O produtor rural Jairo Savi, por exemplo, não autorizou a entrada dos técnicos da Funai em sua propriedade.
– Nós não queríamos receber eles aqui. A terra é nossa, pagamos e temos escritura. Colocamos trator, cortamos árvores, fechamos a estrada e não recebemos eles.
Parte da terra da família Savi está na área de interesse indígena. Ali, eles plantam soja e criam vacas leiteiras. Com a escritura da área nas mãos, José Honório Savi, pai de Jairo, conta a história do sítio, que pertence a sua família há mais de um século.
– Nasci aqui, meu pai nasceu aqui. Se fosse vivo, meu pai teria 130 anos. Ele que adquiriu essas terras e agora os caras vêm falar em terras de índio. Isso tem mais de cem anos de escritura – argumenta.
Não existem aldeias em Mato Castelhano. Os únicos índios na cidade vivem há sete anos em acampamentos montados nas margens da BR-285. A situação é semelhante em outros municípios do norte gaúcho, onde a Funai quer transformar 96 mil hectares em terras indígenas. Em todo o Estado, 18 regiões passam por história parecida, e os agricultores cobram justiça.
Enquanto a insegurança jurídica permanece na região, agricultores como Carneiro e Savi seguem sem saber se, no futuro, poderão continuar morando nas casas que construíram. Agora, os agricultores fazem um abaixo-assinado para cobrar a aprovação de uma emenda constitucional que dê ao Congresso a responsabilidade pela demarcação de novas áreas indígenas. O setor também cobra a instauração de uma CPI para investigar a ações da Funai.