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Fusão entre gigantes Bayer e Monsanto preocupa setor

Confirmação de compra da Monsanto pela Bayer repercute nas entidades do agronegócio, que temem monopólio de biotecnologia

Fonte: Bayer/divulgação

A fusão das multinacionais Bayer e Monsanto, confirmada na manhã desta quarta, dia 14, provocou forte impacto entre entidades e empresas ligadas ao agronegócio. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera que o negócio entre as duas gigantes deve levar o setor a refletir como sobreviver nesse cenário de concentração de mercado.

De acordo com o consultor de Tecnologia da CNA, Reginaldo Minaré, atualmente, a Bayer detém 17% e a Monsanto 12% do mercado mundial de agroquímicos. Com o negócio, somado à compra da Syngenta pela ChemChina e à negociação de fusão entre Dupont e Dow Agroscience, monta-se uma nova configuração global no setor de insumos, restringindo-o a um oligopólio de apenas três grandes companhias. Para Minaré, isso tem impacto direto na vida do produtor quanto à dependência desses produtos.

A CNA também chama a atenção sobre a mudança de ideologia da União Europeia quanto aos materiais transgênicos. A Monsanto, com sede nos Estados Unidos, atua fortemente no desenvolvimento e comércio de sementes geneticamente modificadas, enquanto Bayer, companhia químico-farmacêutica, é baseada na Alemanha. 

“Essa aquisição coloca a posição do bloco europeu, quase sempre refratária aos transgênicos, em cheque. Significa reconhecer a engenharia genética aplicada à agricultura”, diz Minaré.

Famato

O presidente Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, recebeu com preocupação a notícia da fusão entre as companhias. Ele considera que a união entre a maior empresa de biotecnologia do mundo e gigante do setor químico caracterizaria monopólio.

“Monopólio nunca foi bom para setor nenhum. Eu acredito que não vai ser bom também para a agricultura, especificamente, a agricultura brasileira”, afirmou, durante o 1º Congresso de Bioenergia de Mato Grosso. O receio da entidade é em relação ao controle de preços, que podem passar a ser determinados pelo fornecedor, sem ajuste da concorrência. 

“Eu quero lembrar que a Monsanto tem um acordo em curso conosco a respeito da cobrança de royalties, que não deveria ter cobrado ano passado. Espero que a Bayer cumpra esse acordo agora, uma vez que está comprando a Monsanto”, lembrou Prado.

Conforme o presidente da Famato, está acordado com a Monsanto um o bônus na hora da compra de novas sementes pelos produtores.

Bunge

A fusão entre o grupo alemão e a empresa norte-americana representa mais um passo no processo de forte concentração em diversas áreas do agronegócio global, avalia o presidente da Bunge no Brasil, Raul Padilla. Mas isso não terá necessariamente, segundo ele, consequências negativas a clientes e fornecedores das empresas. “Concentração nem sempre tem consequências ruins”, disse Padilla. 

Referindo-se a outras megaoperações anunciadas no setor neste ano – como a fusão entre Dow Chemical e DuPont, nas áreas de química e de defensivos agrícolas –, o presidente da Bunge comentou que o setor passa por grande transformação e por um “processo de consolidação importante”.

Aprosoja-MT

A redução de opções de mercado para o agricultor é também o que deixa apreensivo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin. Ele afirma que o setor necessita do rápido desenvolvimento de produtos e de biotecnologia, para o controle de pragas que estão ficando cada vez mais resistentes. “Vamos ver o desfecho final dessa aquisição, mas, a princípio, novas tecnologias virão da fusão entre as duas empresas”, diz.

Indagado sobre como deverá ficar a questão dos royalties sobre a utilização de sementes transgênicas, que vinha sendo negociada com a Monsanto, Dalcin afirma que ainda é muito cedo para saber como será o andamento do grupo de trabalho dedicado à matéria.

O presidente da Aprosoja-MT lembra ainda que, para ser concluída, será preciso haver aprovação dos órgãos reguladores. “A Bayer e a Monsanto vão ter que se desfazer de alguma parte de suas empresas, pois a gente sabe que os órgãos de controle não vão permitir que elas fiquem como todas as suas unidades”. 

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