Famoso como aliado da saúde, o gengibre tem sido uma alternativa de renda para pequenos agricultores brasileiros. Com baixo custo de produção, o cultivo dura de 8 a 10 meses desde o plantio até a colheita, que tem um trunfo: não precisa ser feita de imediato. Isso porque o gengibre é uma raiz tuberosa que pode ser mantida na terra por um período mesmo após atingir o ponto de maturação. Assim, o agricultor pode esperar um bom momento econômico para fazer a colheita e vendê-lo.
Para incrementar o valor pago pelo alimento, o Espírito Santo, principal estado produtor do país, vem incentivando o cultivo orgânico. A certificação também tem sido demandada por compradores internacionais. “Estamos trabalhando o orgânico desde 2018. Está tendo uma demanda muito grande lá fora. Passamos a estimular os agricultores, que apoiaram a causa e aumentamos a exportação de orgânico”, conta o extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Galderes Magalhães.
A cultura é feita por famílias em propriedades que variam de três a 15 hectares e quando orgânico o produto pode alcançar um valor de 30% a 50% maior. “O gengibre não precisa de altos investimentos em insumos químicos. Este ano, tivemos experiência de alta produtividade só utilizando adubo orgânico”, diz Magalhães.
A área de produção do alimento tem crescido e a venda se concentra no mercado externo, que responde por mais de 90% do gengibre produzido no Espírito Santo. Os últimos dados levantados pelo Incaper apontam crescimento na produção capixaba, que em 2018 foi de 18,68 mil toneladas do produto, com 356 hectares de área colhida. Já em 2019, o volume produzido saltou para 23,06 mil toneladas, com 439 hectares de área colhida.
Alguns dos principais mercados para o produto brasileiro estão na Europa, Estados Unidos e Japão, mas países árabes como Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita já estiveram entre os compradores. “O nosso gengibre é muito bem visto no mundo inteiro. A variedade que temos aqui, gengibre gigante, contém bastante fibra. Isso permite que, após ser colocado no contêiner, ele consiga se manter em qualidade aceitável para viajar de navio para seu destino”, afirma Magalhães.
A exportação deve dobrar no ano que vem. “Começamos a exportação em fevereiro, porém com volume menor já porque lá fora a pandemia estava muito mais forte. No início, ficou mais caro o processo para exportação porque precisou ser enviado por avião, mas depois o custo de transporte diminuiu. Conseguimos manter a comercialização”, conta o extensionista do Incaper.
Já no estado de São Paulo, onde o município de Tapiraí responde por 51% da produção estadual, os agricultores vendem no mercado interno e viram um aumento de demanda. É o caso da Associação Rural Comunitária de Promoção Humana e Proteção à Natureza, que reúne agricultores do município. Segundo Ivanete Borba, que já presidiu a associação e atualmente é conselheira fiscal dela, a procura pelo produto tem aumentado este ano de março para cá.
Os 21 associados comercializam no Ceagesp de Sorocaba e atendem pedidos diretos de outras empresas interessadas. Cada produtor da associação destina, em média, 1,5 hectare da propriedade para o cultivo de gengibre, sempre aliado a outras culturas.
O grupo de pequenos produtores têm se profissionalizado e com 19 anos de história, a associação se prepara, agora, para um novo passo. “Aprendemos a administrar a associação com um projeto que nos apoiou. Agora, estamos nos planejando para atender a exportação. E a qualidade tem que ser boa, com gengibre com fibra para resistir no caminho dessa venda ao exterior”, diz a produtora.
Se o clima frio e a geografia montanhosa do município são propícios para o cultivo, a experiência dos agricultores familiares mostra que o caminho é a qualidade. “Aqui não conseguimos crescer muito em volume porque tem muitas áreas onde não entra trator e outras máquinas, por exemplo. Por isso, precisamos investir na qualidade do gengibre”, explica ela.
Os paulistas também estão passando por uma fase de transição para o cultivo orgânico. “Aqui tem muita mata e microrganismos que ajudam nisso. O clima também contribui para cultivo do nosso gengibre, que contém mais fibra e por isso pode ser exportado. Esse ano, estamos na colheita desta qualidade que planejamos”, conclui a produtora.