O agricultor Adir Bourscheidt, depois de passar muitos anos acampado à beira de estradas, recebeu um lote há quatro anos, junto com outras cem famílias. Atualmente, Adir e a esposa se esmeram na produção de hortaliças orgânicas, mas o agricultor confessa que ainda não está satisfeito com os resultados.
? Nós somos assentados, mas somos jogados no lote de terra e é meio esquecido ? comenta Adir.
O agriclutor afirma que ainda consegue vender apenas dentro das cotas predeterminadas para a merenda escolar de escolas públicas da região e gostaria que o próximo governo ajudasse a abrir mercados.
Segundo o pesquisador Carlos Mielitz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um dos desafios dos gestores públicos que serão eleitos este ano será consolidar os assentamentos já instalados.
? No Sul do Brasil, os números de famílias demandando reforma agrária diminuíram muito perto do que era no passado. A demanda agora é por consolidar os assentamentos já realizados e viabilizá-los tanto economicamente quanto socialmente. [Tem que] dar condições de crédito, escoamento e alternativas produtivas ? comenta Mielitz.
Encomendada pela CNA, uma pesquisa do IBOPE avaliou as condições de grandes assentamentos em nove Estados. Três em cada quatro agricultores não têm acesso a empréstimos do Pronaf e 37% das famílias vivem com menos de um salário mínimo por mês.
Por outro lado, um estudo feito pela UFRGS em 200 assentamentos mostra que o abandono de lotes está relacionado à questões sociais. Os locais com menor evasão são aqueles com maior número de casais e com grupos religiosos mais unidos.
Um assentamento em Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul, é um exemplo de união que produz resultados positivos. Nele, uma parte dos agricultores trabalha em forma de cooperativa na criação de suínos alimentada com a produção das lavouras dos lotes da reforma agrária. Os 80 animais abatidos por dia são vendidos nos mercados da região. Os pedidos destes assentados para os próximos governantes, porém, é semelhante ao da maioria dos agricultores familiares.
? Precisamos de preços que cubram os custos de produção para que o agricultor tenha motivação para ficar no campo, produzindo alimentos ? sugere o produtor Mauri Marcon.
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Os agricultores assentados também produzem arroz orgânico. Nilvo Bosa, coordenador da cooperativa, pede que o próximo governo ajude os assentamentos garantindo recursos para investimentos e mais renda na hora da comercialização.
? Uma política agrícola definida e financiamento mais acessível. Às vezes tem, mas a gente não se enquadra ? comenta Bosa.