O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou nesta quarta-feira, 16, portarias que atualizam o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura do girassol no Brasil. O Zarc é uma ferramenta de análise do risco derivado da variabilidade climática e que considera as características da cultura e do solo.
“No caso do girassol, definimos as áreas e os períodos de semeadura para o seu cultivo com probabilidades de perdas de rendimento inferiores a 20%, 30% e 40%, devido à ocorrência de eventos meteorológicos adversos”, afirma o pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja.
Os estudos para o desenvolvimento da nova versão do Zarc para o girassol foram iniciados em 2020 e validados em reuniões realizadas junto aos principais atores da cadeia produtiva do girassol em maio de 2021. Segundo o Mapa, para a atualização do Zarc, pesquisadores da Embrapa empregaram novas metodologias, ampliando o zoneamento de risco climático do girassol para todo o Brasil. Novos fatores de risco foram considerados, associando questões hídricas, térmicas e fitossanitárias.
“Foi ainda introduzida a nova metodologia de abordagem dos riscos associados à água disponível no solo, deixando-o pronto para incorporar os novos conceitos de manejo do solo e dos sistemas produtivos a serem associados ao risco climático nos futuros trabalhos de zoneamento”, explica Farias.
De acordo com o pesquisador, o girassol é pouco influenciado pelas variações de latitude e de altitude, apresenta tolerância a baixas temperaturas e é relativamente resistente à seca. Com relação às necessidades de água para o cultivo do girassol, Farias afirma que o ideal seria em torno de 500 a 700 mm de água disponível, bem distribuídos ao longo do ciclo. “As fases mais sensíveis ao déficit hídrico ocorrem durante a semeadura e a emergência das plantas e, principalmente, do início da formação do capítulo ao começo da floração seguida da formação e enchimento de grãos”, destaca Farias.
Outro fator considerado como um dos parâmetros no Zarc foi a associação das condições climáticas ao risco fitossanitário, uma vez que o clima pode ou não favorecer o desenvolvimento de importantes doenças e de difícil controle. A podridão branca, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, por exemplo, está associada às condições frias e úmidas.
Por outro lado, a mancha de alternaria, causada pelo fungo Alternaria helianthi, é decorrente de altas temperaturas e chuvas excessivas. “Nosso estudo procurou, também, delimitar as áreas e identificar os períodos de menor risco climático para a ocorrência de problemas fitossanitários e, assim, favorecer a exploração da cultura do girassol no Brasil”, destaca.
Base de dados
A base de dados meteorológicos utilizadas na atualização do Zarc é composta por séries históricas de aproximadamente 30 anos, obtidas a partir das redes de estações terrestres, meteorológicas e pluviométricas, convencionais e automáticas, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do sistema HidroWeb, operado pela Agência Nacional de Águas, e aquelas pertencentes ao Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe), além de redes estaduais mantidas por instituições ou empresas públicas.
Cultura do girassol
Segundo nota publicada pelo Mapa, o girassol pode ser cultivado desde o Rio Grande do Sul até Roraima. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a área cultivada no Brasil em 2021 seja de 31,5 mil hectares, sendo 70% realizada no estado de Goiás (cerca de 20 mil ha), seguida de Mato Grosso (8,5 mil ha), Rio Grande do Sul (1,5 mil ha), Minas Gerais (800 ha) e Distrito Federal (700 ha).
Apesar dos diversos usos do girassol e do potencial da cultura como componente de sistemas de produção diversificados e rentáveis, Farias afirma que a variabilidade na disponibilidade hídrica é a principal limitação à expressão do potencial de rendimento do girassol no Brasil.
“As séries de chuva reunidas e com períodos de dados a partir de 1980, passaram por teste de homogeneidade e análise de consistência e contemplam cerca de 3.500 pontos de dados distribuídos no território nacional”, explica. “Os dados de temperatura máxima e mínima utilizados são provenientes da base gerada por interpolação a partir de 735 estações meteorológicas”, afirma Farias.