Agrodefesa do Estado criou a regra para garantir que não seja feita a soja segunda safra. Medida pode inviabilizar a produção de sementes salvas
Fernanda Farias | Jataí (GO)
Os produtores de Goiás não podem mais plantar soja entre os dias 1º de janeiro e 30 de setembro. A Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) estabeleceu a Instrução Normativa 08/2014, publicada no dia 11 de novembro (confira abaixo), que altera o calendário de plantio.
A regra diz que a semeadura da oleaginosa em todo Estado será de 1º de outubro até 31 de dezembro. O vazio sanitário, período em que não pode existir nenhuma planta de soja viva na lavoura (plantas guaxas), permanece de 1º de julho até 30 de setembro.
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Em outubro, Mato Grosso alterou suas regras para o vazio sanitário. A alteração mato-grossense antecipa o início do vazio em 45 dias. Começando de 1º de maio até 15 de setembro.
O objetivo das medidas fitossanitárias é eliminar as semeaduras tardias e a soja safrinha. Isso evita a criação de inóculos do fungo e, também, que a ferrugem crie grande resistência aos fungicidas disponíveis. A mudança deve afetar os agricultores que cultivam a própria semente em Goiás.
Produzir sementes salvas em uma segunda safra de soja preocupa os produtores do Estado. A normativa conjunta da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Associação dos Produtores (Aprosoja-GO) e Agrodefesa não vai permitir este cultivo. Só em Jataí, município a 320 km de Goiânia, 40% dos produtores não poderá fazer soja segunda safra para produzir sementes.
– A questão da safrinha é que você colhe com tempo mais seco e a qualidade é melhor. Mas pode atrapalhar por outro lado. A ferrugem, a eficiência dos fungicidas, às vezes o produtor ganha por um lado e perde por outro. Sementeira tem que melhorar a qualidade de produção para oferecer para o produtor uma semente com a qualidade que poderia ter com a safrinha – afirma o produtor Eliézer Vieira Goulart.
A Associação dos Produtores de Grãos de Jataí (APGJ) afirma que a medida é importante para conter o ataque de ferrugem nas lavouras, mas prevê sementes mais caras.
– Eu acredito que vai aumentar, até porque o custo da semente já tem aumentado nos últimos anos. Outro impacto é ter aumento na demanda por sementes e ter semente de qualidade inferior sendo oferecida ao produtor. Essa discussão tem que ser frequente em virtude da dinâmica da produção, procurar alternativas – ressalta Joel Raganin, dirigente da APGJ.
A Faeg explica que as pesquisas que foram feitas durante o período da segunda safra se limitaram às regiões de Flores de Goiás e Luís Alves. No estudo, apontou-se que a produção de sementes não teve o resultado esperado. Porém, o vice-presidente da entidade, Bartolomeu Braz Pereira, confirma que o assunto continuará sendo discutido.
– Ele não está conseguindo fazer com que essa produção de semente tenha sucesso. Ela está se perdendo. Estamos avaliando isso. É lógico, eu sou produtor rural também, quero salvar a minha semente. Se isso for interessante economicamente, vamos fazer. A gente não quer é que essa produção de semente venha manter a ferrugem por mais tempo no campo e trazer um prejuízo muito maior para toda a cadeia. Isso pode inviabilizar a produção de todo o Centro-Oeste, se não tomarmos medidas que podem doer no bolso momentaneamente, mas pode ser bom no futuro – explica o vice-presidente da Faeg e presidente da Aprosoja Goiás.
Veja o documento completo:
Acesso ao crédito para o milho segunda safra
Além do vazio sanitário, os produtores goianos também estão calculando o custo a mais que terão com o atraso na liberação de financiamentos para o milho de segunda safra.
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A área de soja em Jataí será de 260 mil hectares nesta safra. Finalizando o plantio, preocupação agora dos sojicultores locais é com a segunda safra. Cerca de 60% dos 400 produtores encaminharam pedidos de financiamento ao banco no mês de setembro.
A solicitação é para a compra de sementes e insumos para o plantio do milho. Só no final de outubro que as respostas começaram a sair. A estimativa do banco é liberar entre aproximadamente R$ 50 milhões.
– Demorou um pouco devido a fatores de mercado do milho, de mercado da soja e no atraso do plantio – argumenta o gerente de banco Alyrio Cabral Vieira Jr.
Por causa disso, produtores como Rogério Roniazzo devem gastar 15% a mais na compra dos produtos.
– O banco sinalizou que vamos conseguir financiar a partir de agora. Todo mundo irá para o mercado, com o dólar alto, as sementes terão custos mais altos. Plantamos mais tarde por causa da falta de chuvas, vamos ter produtividade menor e esse custo maior – lamenta Roniazzo.
O Sindicato Rural da cidade recebeu de volta dezenas de propostas de agricultores, pedindo a revisão dos valores.
– A gente ia com custo de R$ 1.490 por hectare, o banco pediu para que reduzisse para R$ 1.320. São R$ 170 a menos que o produtor vai pegar, e vai gastar mais. Tudo isso reflete no lucro que o produtor poderia ter – comenta o presidente do sindicato, Silomar Faria.
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