O governo de Goiás decidiu tributar as exportações de soja e milho no estado. A decisão foi publicada em um decreto que altera seu Código Tributário no que diz respeito ao recolhimento de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas operações de processamento e comercialização de soja e milho em solo goiano.
Segundo o decreto nº 8.548, de 29 de janeiro de 2016, “foi criada a Autorização para Apuração Englobada do ICMS, que será concedida para a realização de operações de tal forma que a proporção entre a quantidade de soja ou milho objeto de operação tributada e a quantidade desses produtos de operação isenta atinja percentual a ser definido pela Secretária da Fazenda (Sefaz) em cada exercício”.
Ainda de acordo com o documento, esse percentual poderá ser alterado de acordo com circunstâncias econômicas do mercado interno ou externo dos dois produtos. Em comunicado, a Sefaz informa que a regra para o ano de 2016 será estabelecida em breve. Para a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), essa tributação sobre os grãos chega a um momento de descaso do governo estadual na prestação de serviços.
“Temos rodovias em péssimo estado para o tráfego e escoamento da safra, insegurança na zona rural e infraestrutura elétrica completamente deficitária. Tudo isso trava o setor agropecuário, tirando nossa competitividade”, critica o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira.
Consequências negativas
Na prática, as alterações propostas nesse decreto criam um sistema diferenciado de cobrança do ICMS, principalmente nas operações de exportação. Como consequência, as empresas que comercializam o grão terão mais custos e haverá desequilíbrio no livre mercado da soja e do milho, o que deve afetar a competitividade dessas commodities em Goiás.
Segundo a Aprosoja-GO, a tributação estadual pode desestimular as atividades das tradings exportadoras, que são importantes no financiamento da safra ao fornecer crédito em troca de grãos. Essas empresas têm forte atuação nas áreas de expansão agrícola, onde o crédito oficial é restrito e há poucas agroindústrias.
“ Se as tradings buscarem melhores condições de compras de grãos em outros estados e reduzirem sua participação aqui, isso inviabiliza o avanço da produção agrícola e prejudica a economia goiana”, lamenta Pereira, que também é vice-presidente institucional da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
De certa forma, o tributo sobre as exportações de soja e milho também cria uma reserva de mercado para as indústrias locais.
“Neste cenário é provável que haja a prática de preços menores ao produtor, já que na formação desses preços teremos a incidência de mais um custo, em especial aos exportadores”, explica o consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro.
Entidades reagem
Para evitar a cobrança em Goiás e evitar que a prática seja espalhada para outros estados, representantes da Aprosoja-GO, Faeg, Aprosoja Brasil e estaduais, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e federações estaduais, e Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) vão se reunir em Brasília na próxima semana. Na reunião, as entidades vão propor ações coletivas para barrar o que consideram uma infração à Lei Kandir.
Criada em 1996, essa legislação fomentou o desenvolvimento da agricultura no Brasil ao isentar de impostos as exportações de grãos e outros produtos. O impacto foi tão positivo ao país que a produção e exportação ficou cinco vezes maior nos últimos 20 anos.