Governo argentino pede reflexão sobre decisão emitida pela Corte de Haia a manifestantes

Briga entre argentinos e uruguaios sobre indústria de celulose diminui, após três tensos anosOs argentinos querem paz. Os uruguaios idem. Se todos querem, assim deve ser, apesar da resistência em um naco da fronteira. Com exceção dos manifestantes de Gualeguaychú, na margem argentina do Rio Uruguai, os dois países veem a decisão do Tribunal de Haia na terça, dia 20, sobre a indústria de celulose instalada em Fray Bentos (Uruguai), como a chance para o desarmamento de ânimos, após três tensos anos.

O governo argentino entrou em campo para limar o que ainda é áspero: o chanceler Jorge Taiana pediu aos recalcitrantes manifestantes ? que farão uma marcha no próximo domingo ? “reflexão” sobre a decisão emitida pela Corte Internacional de Justiça de Haia (Holanda). De acordo com Taiana, continuar o corte da ponte que liga os dois países “não é a melhor alternativa”.

? Faz tempo que dizemos que o corte não ajuda na defesa dos interesses argentinos. Os manifestantes têm todo o direito de chamar a atenção para o problema ecológico na região, mas não mais com o corte da ponte ? disse ele à rádio Diez, de Buenos Aires.

O comportamento do chanceler é novo, uma sinalização. Até recentemente, o governo argentino costumava apoiar as manifestações em Gualeguaychú.

Em um primeiro momento, a decisão de Haia parece amplamente favorável ao Uruguai. Há, porém, uma reprimenda à atuação uruguaia no episódio e a exigência de que as águas do rio, onde está a indústria de celulose Botnia, seja monitorada em conjunto pelos dois países.

Do outro lado do rio, o senador uruguaio Alberto Couriel, da coalizão governista de esquerda Frente Ampla, disse:

? Não importa se a decisão de Haia determinou que ganhou este ou aquele país. O que importa é que estão abertas todas as possibilidades de diálogo. Não temos aqui um Boca x Ríver (principal clássico do futebol argentino) ou um Nacional x Peñarol (igualmente em relação ao Uruguai). O importante é que há uma decisão equânime e correta, e que os dois países já demonstraram a intenção de acatá-lo.

A diplomacia dos dois países já articula reunião entre a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o uruguaio, José Mujica, para, ainda neste mês, tratar do tema. A perspectiva é de que a decisão em Haia seja a ratificação de um acordo ensaiado já há alguns meses pelos dois países. A oficialização dos seus termos só não havia ocorrido ainda em razão de empecilhos políticos, como a necessidade de o governo argentino não virar as costas aos manifestantes.

Confira depoimentos de dois analistas argentinos de diferentes matizes ? curiosamente, com discursos semelhantes, de encorajamento à aproximação entre os países na esteira do veredicto. Um é do jornal La Nación (que mantém tom crítico ao governo) e outro do centroesquerdista.