O governo argentino entrou em campo para limar o que ainda é áspero: o chanceler Jorge Taiana pediu aos recalcitrantes manifestantes ? que farão uma marcha no próximo domingo ? “reflexão” sobre a decisão emitida pela Corte Internacional de Justiça de Haia (Holanda). De acordo com Taiana, continuar o corte da ponte que liga os dois países “não é a melhor alternativa”.
? Faz tempo que dizemos que o corte não ajuda na defesa dos interesses argentinos. Os manifestantes têm todo o direito de chamar a atenção para o problema ecológico na região, mas não mais com o corte da ponte ? disse ele à rádio Diez, de Buenos Aires.
O comportamento do chanceler é novo, uma sinalização. Até recentemente, o governo argentino costumava apoiar as manifestações em Gualeguaychú.
Em um primeiro momento, a decisão de Haia parece amplamente favorável ao Uruguai. Há, porém, uma reprimenda à atuação uruguaia no episódio e a exigência de que as águas do rio, onde está a indústria de celulose Botnia, seja monitorada em conjunto pelos dois países.
Do outro lado do rio, o senador uruguaio Alberto Couriel, da coalizão governista de esquerda Frente Ampla, disse:
? Não importa se a decisão de Haia determinou que ganhou este ou aquele país. O que importa é que estão abertas todas as possibilidades de diálogo. Não temos aqui um Boca x Ríver (principal clássico do futebol argentino) ou um Nacional x Peñarol (igualmente em relação ao Uruguai). O importante é que há uma decisão equânime e correta, e que os dois países já demonstraram a intenção de acatá-lo.
A diplomacia dos dois países já articula reunião entre a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o uruguaio, José Mujica, para, ainda neste mês, tratar do tema. A perspectiva é de que a decisão em Haia seja a ratificação de um acordo ensaiado já há alguns meses pelos dois países. A oficialização dos seus termos só não havia ocorrido ainda em razão de empecilhos políticos, como a necessidade de o governo argentino não virar as costas aos manifestantes.
Confira depoimentos de dois analistas argentinos de diferentes matizes ? curiosamente, com discursos semelhantes, de encorajamento à aproximação entre os países na esteira do veredicto. Um é do jornal La Nación (que mantém tom crítico ao governo) e outro do centroesquerdista.