Governo brasileiro dispõe de proteção de R$ 1,1 trilhão contra crise internacional

Valor é quase 40% maior do que o Brasil tinha às vésperas da turbulência econômica de 2008O governo brasileiro dispõe de pelo menos R$ 1,1 trilhão para proteção da economia contra os efeitos de um agravamento maior da crise internacional. Essa verba é formada pelo dinheiro que o Tesouro Nacional tem em caixa para rolar a dívida pública, os depósitos compulsórios recolhidos pelo Banco Central (BC) e os dólares das reservas internacionais. Essa proteção é quase 40% maior do que o governo tinha às vésperas da crise de 2008.

No caixa do Tesouro estão depositados cerca de R$ 200 bilhões. Esse dinheiro, chamado no jargão econômico de “colchão de liquidez”, é para ser usado exclusivamente no pagamento de títulos do Tesouro que estão vencendo. Em caso de necessidade, o governo pode parar de ofertar novos papéis em seus leilões semanais para se financiar. Os recursos em caixa são suficientes para o Tesouro ficar sem vender um único título até o fim de janeiro, mês em que há maior concentração de vencimentos de papéis.

Já o dinheiro dos compulsórios – R$ 416,79 bilhões – poderá ser liberado pelo BC para garantir crédito no mercado interno e oferta de recursos em reais na economia, caso os bancos se retraiam e parem de emprestar dinheiro entre si e para os clientes. Já os dólares das reservas, US$ 350,9 bilhões ou cerca de R$ 570 bilhões, ao câmbio atual, podem garantir leilões de linha de crédito para manutenção das operações de comércio internacional, como foi feito pelo BC em 2008, e evitar desvalorização do real.

O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, considera importante o Brasil ter defesas reforçadas neste momento de crise e incertezas. Mas avalia que, diferentemente de 2008, esses “colchões” não deverão ser acionados imediatamente, caso haja um agravamento do quadro. Segundo ele, como o cenário contempla maior preocupação com o nível de atividade, o BC deverá inicialmente baixar a taxa de juros básica (Selic), que está em 12,50% ao ano e tem mais poder para ativar a economia, antes de usar as reservas em reais e dólares.

Freitas considera que, se for mesmo necessário recorrer a esses “colchões”, o primeiro a ser utilizado é a reserva internacional, garantindo oferta de dólares para o setor exportador e contendo possíveis disparadas da moeda americana ante o real. Os depósitos compulsórios só deverão ser acionados caso a oferta de dinheiro em reais fique parada nos bancos, sem circular na economia, o chamado “empoçamento de liquidez”.

? O compulsório não será tão importante quanto em 2008 ? ponderou.

Quando ao “colchão de liquidez” do Tesouro, o economista considera que, em caso de alta volatilidade do mercado, essa reserva de recursos permite que o governo passe um bom tempo sem emitir títulos caso o mercado não queira os papéis do governo ou cobre demais para adquirir os papéis.