Na avaliação da Fazenda, o forte ingresso financeiro intensificado desde setembro e reforçado pela capitalização da Petrobras voltou a pressionar o real. Isso fez com que o Ministério da Fazenda voltasse a elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa.
O Ministério da Fazenda avalia, no boletim, que a trajetória de desvalorização do dólar vai permanecer enquanto a economia dos Estados Unidos não se recuperar da crise. No Brasil, destaca o boletim, o forte crescimento econômico, a relação entre risco e o retorno dos ativos baseados em real e as perspectivas de crescimento futuro tem fomentado a entrada de capitais estrangeiros no Brasil.
O documento traz uma tabela que mostra que o ganho dos investidores com as chamadas operações de carregamento (“carry trade”) no Brasil é um dos maiores do mundo, perdendo apenas para África do Sul e Austrália.
? A participação da moeda brasileira nas transações em mercados futuros e opções ampliou-se ao longo do ano, figurando nas primeiras posições com maior número de transações no mercado global de derivativos ? destaca o boletim.
Segundo a Fazenda, essa posição reflete a solidez da economia, o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro e a atratividade de capitais pelo elevado diferencial de taxas de juros no mercado internacional.
Ainda de acordo com a Fazenda, o primeiro semestre de 2010 foi marcado por forte volatilidade e aversão ao risco por parte dos investidores, devido à possibilidade de quebra de bancos europeus e à desvalorização do euro. A partir do final de julho, com a redução das incertezas, a busca de retorno por parte dos investidores em fundos hedge, e a sinalização do Banco Central americano de desvalorizar sua moeda, o fluxo de capital cresceu para países como o Brasil. O aumento da liquidez e os juros brasileiros atraíram investidores que buscam retorno nos juros e no mercado de câmbio.
O documento da Fazenda traz as posições no dia 11 de outubro dos contratos na BM-F Bovespa. Nos contratos de futuro e de cupom cambial, os bancos estão comprados (apostam na desvalorização do real) em R$ 5,3 bilhões. Já os investidores estrangeiros estão vendidos (apostam na valorização do real) em R$ 7,6 bilhões. Nos contratos de futuro de taxa de câmbio, os bancos estão comprados em R$ 13,9 bilhões e os investidores estrangeiros estão vendidos em R$ 14 bilhões. Nos contratos de swap cambial os bancos estão vendidos em R$ 398 milhões e os investidores estrangeiros comprados em R$ 473 milhões.
Reservas
O Brasil elevará sistematicamente suas reservas nos próximos anos, prevê o boletim da Fazenda. O Brasil está entre os maiores detentores de reservas internacionais do mundo, mas o documento destaca que em porcentual do PIB, o país ainda tem as suas reservas em patamar baixo, se comparado a outras economias. Pelos dados da Fazenda, as reservas internacionais brasileiras correspondiam em agosto a 13,23% do PIB.
Devido à baixa relação entre as reservas e o PIB, ao dinamismo da economia brasileira e ao elevado retorno financeiro proporcionado pelo diferencial de juros é que o Ministério da Fazenda acredita que há espaço para o aumento das reservas internacionais.
IED
O Ministério da Fazenda projeta o ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) de US$ 33 bilhões para 2010 e para 2011. Segundo o boletim, as expectativas de crescimento da economia desde 2007, o grau de investimento concedido ao Brasil pelas agências de classificação de risco e os programas de investimento possibilitaram o aumento significativo do nível de IED.
Para a Fazenda, tem havido uma melhora do perfil da dívida externa brasileira. Pelas previsões do Ministério, em 2010 a composição da dívida fechará o ano da seguinte forma: 37% de investimento direto; 31,3% de ações; 18,5% de renda fixa e 13,2% de outros passivos.
Balança comercial
O boletim Economia Brasileira em Perspectiva avalia que o superávit comercial brasileiro com os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) tem compensado o recente déficit na balança comercial com os Estados Unidos. Segundo o documento, os EUA, que até há pouco tempo eram o principal parceiro comercial brasileiro, com resultados superavitários para o Brasil, passaram a vender mais do que a comprar do país, mas em contraposição o crescimento dos embarques para os membros do Bric anulou a perda ocorrida com o tradicional parceiro.
No acumulado de 12 meses até agosto deste ano, a balança comercial brasileira registra um déficit de US$ 6,2 bilhões com os EUA e um superávit de US$ 6,0 bilhões com o Bric. Com o total do mundo, o superávit no mesmo período foi de US$ 17,1 bilhões.