O atual ritmo de devastação do Cerrado é de cerca de 20 mil quilômetros quadrados por ano ? o dobro do da Amazônia, que este ano deve registrar desmatamento inferior a 10 mil quilômetros quadrados.
Os números são do monitoramento por satélite que analisou imagens de 2002 a 2008 e mostra o avanço do desmate na região, pressionado pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar, soja, pecuária e pela produção de carvão.
? Os dados mostram realidade muito cruel. Hoje em dia se desmata no Cerrado o dobro do que se desmata na Amazônia. Não queremos que o Cerrado de hoje vire a Mata Atlântica ? comparou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
A Mata Atlântica percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta e se estendia do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, ocupando 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Atualmente restam apenas 20% de sua extensão original .
O governo listou os 60 municípios que, juntos, foram responsáveis por um terço do desmatamento no bioma entre 2002 e 2008 e que serão alvos prioritários das ações de fiscalização e controle.
De acordo com o levantamento, o desmate recente no Cerrado está concentrado no oeste da Bahia ? na divisa com Goiás e Tocantins ? e no norte de Mato Grosso. As áreas coincidem com as regiões produtoras de grãos e de carvão.
A devastação do Cerrado também ameaça a oferta de recursos hídricos do país. Considerado “a caixa dá água do Brasil”, o bioma concentra as nascentes das bacias hidrográficas do São Francisco Araguaia-Tocantins e do Paraná-Paraguai.
? Se você desmatar mais essas bacias, vamos ter menos água, menos energia renovável, menos hidrelétricas. Não estamos preocupados apenas com os bichinhos, com a biodiversidade, estamos preocupados com o desenvolvimento do Brasil ? disse Minc.
Além das ações de repressão, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento do Cerrado (PPCerrado) prevê medidas de ordenamento territorial, criação de unidades de conservação e implementação de planos de bacias. A previsão orçamentária para o plano até 2011 é de R$ 400 milhões.
Segundo Minc, a resistência de ruralistas para reduzir o desmatamento no Cerrado vai ser maior que a enfrentada pela área ambiental na Amazônia.
?A briga vai ser maior: a gritaria vai ser maior, porque no Cerrado as atividades econômicas estão muito mais consolidadas. A guerra vai ser muito mais difícil do que a outra, que já não é mole ? aposta.